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Figueiredo, um general entre os soldados chineses

José Escarlate

Na Praça da Paz Celestial, em Pequim, ao lado do mausoléu de Mao Tsé-Tung tremulava a bandeira brasileira. A partir dai, tiveram início as conversações entre autoridades brasileiras e chinesas comandada por Deng Xiaoping. O relato é do meu saudoso e querido amigo, João Pena, que acompanhou o presidente, enquanto eu fazia o voo Tóquio – San Francisco, pela Japan Airlines.

Ao abraçá-lo, o presidente João Figueiredo disse: “O senhor é meu colega de Arma”, ao que retrucou Xiaoping: “O senhor é general de quatro estrelas e eu sou apenas um soldado”, explicando que no Exército chinês não existem patentes diversas, como em outros países. “A única diferença – disse Figueiredo – é que um general, quando perde a guerra é condenado. O soldado, quando perde, todo mundo tem pena”. Para um Xiaoping meio espantado, o presidente brasileiro concluiu: “É como time de futebol. Se perde, não é bom”. Dois intérpretes traduziam a conversa, um chinês e outro do Itamaraty.

Xiaoping disse que lutou 20 anos combatendo na guerra. “Vivi muitas batalhas” – disse. “Combatíamos a opressão dos imperialistas, empurramos Chiang Kai Chek para Taiwan, para libertar o povo chinês. Hoje – acrescentou – há uma batalha mais difícil, que é a batalha da paz”.

À noite, a grande surpresa, o banquete oferecido pelo presidente Li Xiannian à comitiva brasileira, no Palácio do Povo. Mais de 600 convidados se deliciaram com sofisticados pratos chineses, ao som de músicas brasileiras como “Festa do Interior”e “A Banda”. Surpresa maior foi da solista Song Baccai que todou a peça folclórica “Ai Filomena”, que é a nossa “marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito vai preso pro quartel”. Figueiredo e militares brasileiros choravam de rir, aplaudindo.

Mas o presidente João Figueiredo não estava livre, leve e solto. O médico Newton Mattos não tirava o olho dele, atento e preocupado. O presidente percorreu três estágios da Grande Muralha. Como se não bastasse, ainda foi conhecer o túmulo do Imperador Ming e a Cidade Proibida, onde fica o antigo Palácio Imperial de Pequim, construído há 500 anos. Como resultado final da viagem, um memorando de entendimento na área nuclear; um protocolo adicional de comércio e quatro acordos de cooperação científica e tecnológica.

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