Eles nunca frequentaram uma escola pública, andaram de ônibus ou precisaram trabalhar. Estão em busca de se manterem no poder político e/ou econômico porque já nasceram nele, pois pertencem a famílias que de longa data se sucedem no controle de prefeituras, do governo estadual e até das representações locais de órgãos do governo federal.
Acostumaram-se a viver, literalmente, como políticos profissionais, agarrados às tetas dos cargos e dos orçamentos públicos. Agora estão, mais uma vez, como fazem a cada quatro anos, atrás dos votos dos moradores pobres dos morros e de bairros periféricos do Recife para manterem seus privilégios.
Com o PT alijado da disputa pela Prefeitura do Recife, mediante um acordo entre Lula e o prefeito João Campos (PSB), candidato à reeleição e com o apoio do presidente da República ele nada de braçadas na disputa por seu cargo com os companheiros oligarcas Daniel Coelho (PSD) e Gilson Machado (PL).
No campo da esquerda, só a deputada estadual Dani Portela (PSOL) concorre ao cargo.
João Campos
Bisneto de Miguel Arraes, um ícone da esquerda brasileira, João Campos é apenas um simulacro do ex-governador de Pernambuco quando a questão é ideológica. Ele está mais próximo do pai, o também ex-governador João Campos, morto na campanha eleitoral de 2014 em acidente aéreo ocorrido em São Paulo, quando era candidato à Presidência da República pelo PSB, partido que dois anos depois votaria em massa pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef.
Antes de chegar à Universidade Federal de Pernambuco, onde tornou-se engenheiro, João Campos fez sua formação educacional no Colégio Damas, tradicional escola católica, de origem belga, com 13 unidades no Brasil, sendo a do Recife a mais tradicional. Referência na educação brasileira, a Damas recebe crianças a partir de 1 ano até a 3ª série do Ensino Médio, este no modelo norte-americano de high school com formação bilíngue dos alunos.
O primeiro emprego de João Campos foi no cargo de chefe de gabinete do ex-governador Paulo Câmara (2015-2023), que havia substituído seu pai como preposto da família Campos. Seu pai também ocupou esse mesmo cargo no Palácio do Campo das Princesas no segundo governo de Arraes e na Câmara, quando o avô foi deputado federal. Com o sobrenome da família, João Campos foi por duas vezes deputado federal e eleito prefeito do Recife para o lugar de Geraldo Júlio.
Daniel Coelho
Filho do ex-deputado estadual João Ramos Coelho, Daniel Coelho ingressou na política em 2003, aos 25 anos, e nunca mais saiu dela. Foi vereador no Recife por dois mandatos, uma vez deputado estadual e outras duas deputado federal. Perdeu duas eleições para a Prefeitura do Recife e não conseguiu, em 2022, sua reeleição para deputado federal. Sem mandato, ele foi nomeado secretário de Turismo de Pernambuco pela governadora Raquel Lyra, do PSDB, antigo partido do candidato.
Formado em administração pela Universidade do Estado de Pernambuco, antes de ingressar na política Daniel Coelho fez mestrado, na mesma área, na Universidade de Bornemouth, na Inglaterra, onde morou por dois anos. Nos dois mandatos na Câmara dos Deputados, o atual e mais uma vez candidato à Prefeitura do Recife, além de votar a favor do impeachment de Dilma, votou sempre contra os interesses dos trabalhadores ou pautas sociais, no apoio à terceirização da força de trabalho, PEC do Teto de Gastos e Reforma Trabalhista, que retirou direitos dos trabalhadores e emasculou os sindicatos.
Gilson Machado
O mais velho dessa turma, aos 56 anos Gilson Machado (PL) está disputando sua segunda eleição. A primeira, em 2022, quando ficou em terceito lugar, foi para o Senado. Mas seu primeiro cargo público tem alguma semelhança com o pai de João Campos. Como Eduardo Campos, que chefiou o gabinete de Arraes em seu mandato de deputado federal, Gilson Machado também foi chefe de gabinete do seu tio, o também deputado federal do PFL que carregava o mesmo nome de Gilson Machado.
Produtor rural, veterinário e empresário do setor de turismo – ele tem uma pousada em São José dos Milagres, em Alagoas, onde no último Natal hospedou o ex-presidente Jair Bolsonaro – exerceu no governo do capitão os dois principais cargos ligados à sua área de atuação na vida privada: foi ministro do Turismo e presidente da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo). Único evangélico dos candidatos e assumido como de direita, Gilson Machado já teve por mais de uma vez sua campanha na televisão suspensa pelo Tribunal Regional Eleitoral por ataques a João Campos.
Dani Portela
Presença isolada dos candidatos na Parada da Diversidade 2024, realizada neste domingo (15), na Avenida Boa Viagem, na Zona Sul da Capital, a deputada estadual Dani Portela (PSOL) é também a única representante da esquerda concorrendo à Prefeitura do Recife.
No lugar de prometer casas ou projetos sociais que nunca saem do papel para as classes pobres, ela discursa em defesa do direito à vida – “precisamos lutar por condições mínimas de existência para essa população”, disse na Parada da Diversidade.
– A falta de políticas de enfrentamento às violências de raça e gênero no ambiente escolar é a principal causa para o alto índice de evasão. A saída precoce da escola colabora para que esta população não acesse uma qualificação profissional que lhe garanta condições de ingressar no mercado de trabalho e faz com que a maioria esteja em subempregos, na informalidade precária ou sobrevivendo da prostituição ou sem ocupação, acrescentou.
Filha adotiva de Eribaldo Portela, um ex-preso político torturado durante a ditadura militar (1964-1985), Dani Portela tem 49 anos, é negra, advogada, historiadora e professora. Egressa da escola pública pagou para se formar pela Universidade Católica de Pernambuco, mas fez mestrado na Universidade Federal de Pernambuco. Participou de grupos de estudos políticos ainda adolescente, quando se formou alfabetizadora popular pelo Método Paulo Freire e foi parte do Diretório Acadêmico de História, durante a graduação.
Em todas as áreas em que se dedicou academicamente e na atividade política, se debruça sobre as questões de gênero e violência. Sua atuação como advogada se concentrou na defesa dos direitos das mulheres e junto ao movimento sindical, principalmente com sindicatos da área de educação.
Em 2018, foi candidata ao Governo de Pernambuco pelo PSOL, alcançando o terceiro lugar no pleito, sendo até hoje a mulher com a maior votação nominal ao cargo. Em 2020, foi eleita vereadora do Recife, também pelo PSOL, sendo a parlamentar mais votada da eleição. Em 2022, foi eleita deputada estadual com 38.215 votos. Desde a vereança pauta sua atuação parlamentar a partir de uma identidade popular, antiracista, feminista, anti-LGBTfóbica, anticapacitista e anticapitalista.