Se a capital da República deu exemplo ao Brasil logo no início da pandemia provocada pelo novo coronavírus, com um isolamento total que quase se aproximou de um lockdown, hoje o Distrito Federal parece amargar profundamente as decisões do governo de abrir bares, restaurantes e outros setores não essenciais.
As consequências desse gesto dos governantes – e de empresários que pressionaram para a volta da normalidade econômica – fez disparar o número de pessoas contagiadas pela Covid. E o número de óbitos bateu o recorde diário, com 66 óbitos nesta segunda, 17.
De quebra, o Distrito Federal ultrapassou a triste estatística dos dois mil mortos vítimas do coronavírus. Um placar fúnebre. A abertura das portas do comércio provocou a abertura de mais sepulturas nos cemitérios.
Para ilustrar o quadro da irresponsabilidade das autoridades de Saúde de Brasília, basta fazer uma comparação com o que ocorre no Uruguai, na fronteira Sul do Brasil. A população local é pouco superior à de Brasília. E em cinco meses de pandemia, morreram apenas 38 pessoas.
Infectologistas ouvidos por Notibras entendem que Brasília, por ser a capital da República, deveria ter continuado com seu exemplo no combate à pandemia. De menor extensão territorial entre todas as unidades da Federal, Brasília , com muitos recursos, poderia ter estancando a crise sanitária nas primeiras semanas. E até começou bem, mas está acabando muito mal.
Vamos repetir o número, para que as pessoas acordem: 66 novas mortes contabilizadas em apenas 24 horas. Fica uma pergunta que não quer calar. Por onde anda e o que está fazendo o governador Ibaneis Rocha? A resposta não chega aos ouvidos da sociedade.
Questionamentos assim também devem ser dirigidos aos poderes Legislativo e Judiciário. E o próprio quarto poder – como é conhecida a Imprensa – fecha os olhos a um quadro dramático, supostamente por temer perder as benesses palacianas.
As estatísticas demonstram que vivemos a maior crise sanitária da nossa história, e a população do Distrito Federal se comporta como se nada acontecesse. Mas a culpa não é do povo. Se responsáveis há, são os poderes públicos. Porque onde há vazio de poder, grassa a desordem. E estamos vivendo uma desordem sanitária.
A Câmara Legislativa deveria instalar já, imediatamente, uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as mais de duas mil mortes provocadas pela pandemia. É preciso nominar os irresponsáveis pelo descalabro. Ou alguém usa o pulso firme, ou vamos esperar passivamente chegar aos 3 mil mortos.
Urge que se faça alguma coisa. Porque abrir covas, é enterrar vidas. E vidas, que não são meras estatísticas, merecem respeito.