Lá estava o Santana, cada vez mais incomodado com a sua enorme pança, cada vez mais presente na sua cintura. O cos das calças, cada vez mais baixo, fazia com que a banha tombasse sem qualquer cerimônia sobre a virilha, cada vez mais escondida. “Que droga!”, ele dizia para si mesmo.
Ele tentava se lembrar do tempo em que ainda podia tirar a camisa na praia sem sentir vergonha. Não que algum dia ele tenha tido um corpo apolíneo. Longe disso! No entanto, naquela época tão longínqua, isso não o incomodava.
“Que droga!”, o Santana não conseguia deixar de pensar no seu volumoso abdome, fruto do puro desleixo de anos, regado a litros e mais litros de chope, churrascos com aquelas bordas generosas de gordura, vários docinhos aqui, outro tanto de salgadinhos ali.
Assim que ele entrou na delegacia, alguém lhe pediu para tirar fotografias de um preso, que estava lá na cela ao fundo. Cheio daquele seu mau humor tão característico, lá foi o Santana cumprir a sua primeira tarefa do dia.
– Ei, levanta aí, que preciso tirar umas fotos suas.
O homem, que havia sido autuado por embriaguez ao volante, talvez ainda estivesse sob efeito de álcool. Tanto é que ele se levantou de forma meio sonolenta, sorriu para o Santana e, num movimento meio inesperado, retirou a camisa e começou a fazer pose de fisiculturista.
– Tá bom assim?
O Santana, com a máquina fotográfica nas mãos, não conseguia deixar de pensar que aquele preso, bem ali naquela cela fria e imunda, tinha o abdome que ele queria para si. “Que droga!!!”, quase pensou alto.