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Geraldo Seabra Escreve

Fisiologismo marca os deputados nordestinos no comando da Câmara

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Geraldo Seabra - Foto de Arquivo/Lula Marques - ABr

Enquanto os mais de cinco mil municípios brasileiros estão mobilizados para elegerem em 6 de outubro seus prefeitos e vereadores, uma grande movimentação política em Brasília, que não tem esses cargos a disputar, está mobilizando os 513 deputados federais para uma outra eleição, a do presidente da Câmara Federal, que ocorrerá somente em fevereiro do próximo ano.

A escolha deve recair entre três deputados nordestinos – Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União-BA) e o também baiano Antonio Brito (PSD) – que no momento buscam a bênção do atual presidente, o também nordestino Arthur Lira (PP-AL). Ainda corre por fora outro nordestino, o deputado Isnaldo Bulhões Júnior, do MDB de Alagoas.

Além de nordestinos, esses deputados que buscam a Presidência da Câmara têm em comum, assim como os outros sete conterrâneos que ocuparam o cargo desde a redemocratização do País, em 1985, a marca do fisiologismo.

Nesse período, ocuparam a cadeira de Lira os deputados nordestinos Paes de Andrade (PMDB-CE), Inocêncio Oliveira (PFL-PE), Luís Eduardo (PFL-BA), Efraim Moraes (PFL-PB), Severino Cavalcanti (PP-PE), Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Waldir Maranhão (PSDB-MA).

Eles cultivam aquele tipo de poder político sem cunho ideológico, onde predominam decisões na troca de favores, no compadrio.

Presidente da Câmara durante o governo Sarney, o que lhe fazia de vice-presidente da República, Paes de Andrade entrou para o folclore político quando em uma das ocasiões em que foi presidente interino foi no avião presidencial até Mombaça, sua cidade natal, em companhia de parentes, aliados e amigos.

Tal qual Paes de Andrade, Inocêncio Oliveira exerceu interinamente a Presidência da República durante o governo itamar Franco, que como Sarney também não tinha vice-presidente. Mas foi na vida privada que ele ocupou o noticiário policial, quando em uma fazenda de sua propriedade, no Maranhão, foram encontrados mais de 50 trabalhadores em situação análoga à escravidão. O deputado foi condenado ao pagamento de uma milionária multa, revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Luís Eduardo Magalhães manteve em seu gabinete, sem dar expediente, uma secretária com quem teve um filho fruto de um relacionamento amoroso. Com a morte do deputado, em 1998, ela deixou a Câmara e foi contratada no gabinete do senador Antônio Carlos Magalhães (Arena-BA), pai de Luis Eduardo, permanecendo por mais de uma década como funcionária fantasma do Senado, de onde recebeu salários cujo montante, à época, totalizava R$ 1 milhão.

Efraim Moraes sempre cuidou bem da família. Eleito senador, nomeou para a assessoria de imprensa do seu gabinete a própria filha, Carolina. Mais tarde, no governo Bolsonaro, conseguiu a nomeação de Carolina para um cargo na Ancine (Agência Nacional de Cinema), como compensação após a aprovação da reforma da Previdência Social pelo Congresso Nacional. Os dois filhos homens ele encaminhou para a sua carreira política.

Severino Cavalcanti, conhecido como “rei do baixo-clero”, chegou à Presidência da Câmara em meio a um racha do PT que tinha o deputado paulista Luis Eduardo Greenhalgh como candidato oficial. Foi eleito com a promessa de aumentar salários e mordomias dos deputados, mas caiu em desgraça quando o permissionário do restaurante da Câmara denunciou que pagava a Cavalcanti uma mesada de R$ 10 mil reais para ter a concessão do restaurante.

Deputado por 44 anos, presidente da Câmara de 2013 a 2015, Henrique Eduardo Alves foi também ministro do Turismo nas gestões de Dilma Rousseff e Michel Temer, quando deixou o cargo após ser citado como beneficiário de uma propina de R$ 1,5 milhão na construção da Arena das Dunas, em Natal, estádio construído para a Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Alves chegou a ser preso e contra ele pesavam outras acusações de enriquecimento ilícito.

Com o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara assumiu em seu lugar o maranhense Waldir Maranhão. Embora tivesse votado contra o impeachment de Dilma, o deputado logo teve seu nome envolvido no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras, citado pelo doleiro Alberto Youssef. Ele também foi acusado de desvio de dinheiro de fundos de pensão e de lavagem de dinheiro, além de captação ilícita de recursos para a sua eleição.

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