José Escarlate
Era um repórter de dar inveja, pela facilidade com que encontrava o lead certo e atrativo para suas matérias. Flamarion Mossri, o “turco” querido por todos estava à frente dos pioneiros que fizeram Brasília. Ele detestava gravadores, tão utilizados pela imprensa.
Guardava na memória grande parte das entrevistas que fazia. Trabalhava com extrema dedicação em dois dos maiores jornais deste país. O Estado de S. Paulo e o Jornal do Brasil, além da TV Globo, onde trabalhou até ser atingido por grave doença renal.
Era uma verdadeira enciclopédia e, sempre atento, nada lhe escapava na esfera política. Conhecia como poucos os bastidores do Congresso. Como repórter, costumava dar nó em pingo d’água. Ajustava com perfeição declarações confusas de políticos apressados, que depois o procuravam para consertar o mal feito, ou o mal dito.
A mágoa de Tancredo – Analista político do maior gabarito, coube a Flamarion furar toda a imprensa ao noticiar a renúncia de Jânio Quadros. Simples, sempre dizia que jornalismo era a única coisa que sabia fazer na vida, além de cultivar amizades. Foi um amigo fiel de todas as suas fontes, que não eram poucas.
Passa-Quatro, a cidadezinha mineira onde nasceu, era o seu xodó, onde colaborava de graça com o jornalzinho local. Muitas vezes conseguiu a aprovação de uma emenda para a construção de uma escola ou de um posto de saúde na sua Passa-Quatro.
Tancredo Neves, amigo do jornalista, guardava a mágoa. Dizia que “Flamarion conseguiu colocar Santa Rita do Passa Quatro na Loteria Federal e eu não consegui colocar a minha São João del Rey. Ele era um craque”.
Fora do jornalismo, uma das suas paixões era o voleibol, que curtia todos os finais de semana, no Clube da Imprensa. O grupo era alegre e formado por “semi craques”. Os políticos Arhur Virgílio e Heráclito Fortes destacaram que Flamarion vivia em função da notícia, mas sempre procurava ajudar as pessoas perseguidas pelo regime militar, como o seu cunhado, José Dirceu.
Ninho de “cobras” – Na Câmara Federal, o meu amigo Flamarion Mossri, o “Flama” ou “Turco”, presidia o Comitê de Imprensa. Nos conhecemos no vôlei dos domingos, no Clube da Imprensa, onde a Aurora jogava e eu assistia e batia palmas.
Na Câmara Federal, a sala de imprensa era um ninho de “cobras”. Toda tarde eu estava lá para beber um pouquinho daquele veneno.
Murilo Melo Filho, Cláudio Coletti, o Rubem Azevedo Lima e o Haroldo Cerqueira Lima, o “Leleco”, Ruy Lopes e o Reynaldo Domingos Ferreira da Folha de S. Paulo, Fernando César Mesquita, do JB e Estadão, passando pelo Carlos Henrique de Almeida Santos, da Agência Estado, do Abdias Silva, da Agência JB, o Cauby de Oliveira e o Moacyr Valadares, e o trio Expedito Quintas, Octacílio Lopes e Edison Lobão, do Diário de Notícias, além dos velhos amigos João Firmino Pena e Waldemar Pacheco, da Rede Globo, e Sebastião Fernandes, da Radio Nacional.
Era um time de respeito. Com essa turma toda eu fiz o meu aprendizado. Eu bebi daquela água e estava em boas mãos.