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Doceira de pais, filhos, netos...

Flávia usa toque de magia para adocicar almas

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Acervo Pessoal

Flávia não é do tipo que se sente à vontade com o título de “ex” qualquer coisa. Para ela, por exemplo, não existe “ex-dona de padaria”. Afinal, mesmo sem o balcão de mármore onde descansavam sonhos recheados de doce de leite, ou a vitrine que exibia pães frescos como troféus dourados, ela continua a ser a mestra dos sabores, a alquimista da farinha e do açúcar. Ela é, em essência, uma padeira de alma.

Para este domingo, dia dos pais, observava-se, desde a véspera, que a casa de Flávia se transformava. A mesa, grande o suficiente para abrigar filhos, netos, e até vizinhos intrometidos, se enchia de pratos e mais pratos. A cada ano, as guloseimas parecem mais numerosas, mais elaboradas, como se Flávia quisesse que todos levassem um pedaço de sua história, uma fatia de suas memórias.

Já no sábado, logo cedo, as panelas e batedeiras começaram a trabalhar, ritmadas pela mão experiente da esposa, mãe e avó que, com um sorriso leve nos lábios, faz questão de recriar receitas antigas e inventar novas. Entre uma fornada e outra, ela cuida dos detalhes, imaginando a reação dos netos ao provar a cuca de uva, ou como os filhos se deliciariam com as rabanadas fritas na hora, com um bolo de chocolate adornado de morangos…

No fundo, Flávia sabe que o verdadeiro presente do dia não está nos pacotes embrulhados, mas nas iguarias cuidadosamente preparadas, adoçadas com afeto, com um aroma que se espalha levado pela brisa vinda do mar. Seus doces são mais que sobremesas; representam lembranças que se repetem a cada ano, mas que nunca perdem o sabor de novidade.

Quando a família finalmente se reunir logo mais em volta da mesa, o aroma de canela e açúcar vai invadir o ambiente. Todos sabem que ali, mais do que os presentes, mais do que as palavras ditas nos discursos emocionados, o que importará de verdade será o gesto simples e profundo de compartilhar um pedaço de bolo, uma colherada de pudim. Tudo pelas mãos de Flávia, esposa, mãe e avó, que com cada guloseima deposita amor nas bocas e nos corações de sua família. E, claro, da vizinhança enxerida.

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