Curta nossa página


O pitéu

Fofoca envolvendo nome de Júlia acaba na morte do avô

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Júlia era um pitéu! Aliás, arrogantemente deliciosa, como Augusto, um dos tantos admiradores, havia notado. O gajo era, na verdade, um privilegiado. Não que tivesse qualquer chance com a beldade. É que ele morava no prédio defronte do dela, ali em Águas Claras.

Melhor ainda. O apartamento do Augusto ficava um andar acima, o que lhe dava visão privilegiada do dia a dia da Júlia. Esta, talvez até para provocar um enfarte no vizinho octogenário, vez ou outra, desfilava apenas de calcinha e sutiã. Que morresse, mas de modo digno!

Aos 34 anos, caminhava firme pelas calçadas, enquanto uma horda de marmanjos babava. Os pés da moçoila, confortavelmente acomodados num chamativo par de tênis verde-limão, decididos que eram, iam e voltavam da academia na esquina. Alguns, mais atrevidos, a cumprimentavam com sorrisos embasbacados.

Rômulo, um dos mais velhos do local, até cogitou a ideia de se matricular, pois já não conseguia esconder a barriga todas as vezes que Júlia passava. Todavia, preferia não arriscar ter um enfarte levantando pesos e fazendo caminhadas sem sentido na esteira. Se iria morrer, que fosse comendo torresmo e tomando uma gelada no botequim do Joca.

Certa feita, um conversível estacionou em frente ao prédio de Júlia, que, não tardou, apareceu na janela e deu um tchauzinho. Todos notaram, ainda mais porque um velho, que tinha no mínimo idade para ser avô da lindona, desceu do veículo. Pior, ele foi em direção à portaria, entrou e, alguns minutos após, já estava no interior do apartamento da mulher mais desejada da região.

O idoso, que usava uma bengala, foi até a janela e percebeu que um outro velho, no apartamento do edifício em frente, o encarava. Sem qualquer cerimônia, o ancião de cá fechou a janela, o que instigou a curiosidade do Augusto. O que aquele ser decrépito estaria fazendo justamente no apartamento da Júlia? Seria um amante rico?

A fofoca se espalhou por todo o bairro, ainda mais porque ninguém sabia ao certo o que estaria acontecendo atrás das cortinas. Quase duas horas após, eis que o idoso de bengala saiu pela portaria, entrou no veículo e, antes de partir, ainda acenou para a pantera na janela. Ela, por sua vez, beijou a palma da mão e soprou em direção ao, agora todos tinham certeza, amante.

Ninguém falava de outra coisa. Júlia, com todos aqueles atributos, havia mesmo se metido com um homem tão ou mais velho do que todos ali na região. Isso, aliás, despertou esperanças naqueles machos envelhecidos. Se ela namorava um senhor de pra lá de 80 anos, qualquer um dali teria chance de se aninhar nos braços da gatona.

A partir de então, Júlia passou a ouvir cantadas daqueles que, até há pouco tempo, eram apenas babões e nada mais. A princípio, ela achou graça, até que, talvez por conta dos dias do mês, começou a dar patadas. Não raro, saía um ou outro palavrão daqueles lábios carnudos.

Um dia, porém, Júlia surgiu vestida de preto. Triste que estava, foi consolada por uma idosa, que, até então, era desconhecida dos moradores dali. Denise, vizinha do andar da moça, ficou intrigada. O que teria acontecido?

Investiga daqui, investiga dali, a futriqueira acabou descobrindo. Aquela velha era a avó da Júlia. O motivo do luto? Ah, é que o homem do conversível havia falecido. Ele, afinal, era o avô da bonitona.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

Compre aqui 👇🏿👇🏿👇🏿

http://www.joanineditora.com.br/57-contos-e-cronicas-por-um-autor-muito-velho

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.