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Venda do sítio

Fofoca suburbana faz primos-irmãos se afastarem

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Natanael e Teodoro, primos que eram, se conheciam desde os remotos tempos de menino. Cresceram no sítio da família e, com o passar dos anos, viram a parentada abandonar a roça e rumar para a cidade.

Cuidavam dos porcos juntos, cuidavam das galinhas juntos, cuidavam das cabras e ovelhas juntos, cuidavam das vacas e cavalos juntos e, também, cuidavam da plantação juntos. Tratavam de tudo e, por fim, exaustos que estavam, adormeciam no mesmo quarto todas as noites.

Antes do dia clarear, lá estavam aqueles dois prontos para recomeçarem tudo de novo. Essa rotina, além de fazer com que a conta conjunta crescesse, gerou fofoca na vizinhança, que, não tardou, chegou aos ouvidos dos familiares. Que história era aquela? Por que Natanael e Teodoro, cada qual com 50 anos nas costas, não haviam arrumado esposas?

Os parentes se juntaram para ter um dedo de prosa com Natanael e Teodoro. Foi num domingo, logo após a missa, que a caravana chegou ao sítio. Diante de toda aquela gente conhecida, os dois homens pensaram que era alguma data comemorativa. Que nada! Era pura falta do que fazer, além de se intrometer na vida particular dos outros. E a primeira a se pronunciar foi tia Jurema, do alto de sua autoridade de matriarca.

— Olha aqui, Natanael! Olha aqui, Teodoro! Que maldição de solteirice é essa?

Os dois solteirões se entreolharam, enquanto a velha prosseguiu.

— O povo já tá falando! E, quando o povo fala, tem coisa!

Teodoro, talvez o mais corajoso, tentou abrir a boca para se pronunciar, mas foi logo interrompido por mais saraivadas de tia Jurema.

— Ou vocês arrumam mulher ou, do contrário, um dos dois vai ter que se mudar daqui. E façam isso antes que a fúria de Deus caia sobre seus corpos tomados por pecados.

Dito o que era para ser falado, a matriarca deu meia-volta e, com a horda no encalço, entrou em um dos carros e foi embora. Natanael e Teodoro, de pé em frente ao sítio, testemunharam a poeira se levantar e adormecer na estrada de chão.

Não se passou nem sequer um mês, quando a propriedade foi vendida. Os primos dividiram igualmente o dinheiro e, então, cada um tomou seu rumo. Viveram infelizes para sempre, enquanto a parentada ficou aliviada.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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