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Fogo da vaidade política dizima fauna e transforma florestas em cinzas

Um dos 156 milhões de eleitores que elegeram o atual Congresso Nacional, não tenho orgulho algum em informar que me envergonho das excelências que ajudei a escolher. No entanto, mesmo com a cabeça encapuzada, não me falta coragem para afirmar que, desde o meu primeiro voto, foi a pior escolha que já fiz. Os motivos já passam de mil. Como toda unanimidade é burra, tenho consciência de que há centenas, milhares, milhões de brasileiros que adoram presepadas. Ao contrário do que espera os demais milhões de nacionais, é o que faz a maioria dos 513 deputados e 81 senadores da 57ª. Legislatura (2023-2027), notadamente os que se acham mais patriotas do que os outros.

Para estes, bom é o que é ruim. Prova disso é que, mesmo com o Brasil em chamas, os rios secando e pessoas morrendo sufocadas pela fumaça que tomou conta da nação, os parlamentares segmentados insistem em se desviar das funções incluídas na cartilha de qualquer homem público. Decididos a brincar de ratos tentando caçar o gato, representantes do que há de pior na política brasileira não se envergonham de dizer que nada do que fazem – quando fazem – é levado a sério. Como eles passam para o público a mesma seriedade observada em qualquer picadeiro, por que deveríamos vê-los sem o nariz dos mestres do riso?

Perdidos no tempo e rebeldes sem causa, são capazes de admitir que o pedido de impeachment encaminhado ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) contra o ministro Alexandre de Moraes terá a lixeira como destino. Aliás, também não são capacitados para se tocaram que Xandão está se lixando para eles. Falando em lixo, o ideal é que eles tivessem o mesmo caminho. Como ainda não sabem lidar com os antagônicos, tampouco com a pluralidade do Brasil, os deputados sargentos, coronéis, mitos, delegados, caveiras, malafaias, golpistas e afins preferem a gritaria, os xingamentos e arrogância para esconder suas principais marcas: a estupidez política e a incapacidade parlamentar.

Ou seja, são algo bem inferior a um zero à direita. Sem argumentos consistentes de oposição, muitos menos com propostas qualificadas para mudar o que pensa deles pelo menos metade mais um dos eleitores, as duas ou três dúzias de congressistas incluídos nessa lista de ineficientes não conseguem perceber que a inteligência artificial que propagam dificulta o aculturamento da população e acaba estimulando o retrocesso político. Não à toa são considerados por mim e pelos menos radicais cidadãos monolíticos, monotemáticos e, com todo respeito às serpentes, rasteiros.

Tenho saudades do tempo em que os políticos objetivavam resultados. E hoje? De um lado, a luta do governante eleito para mostrar ao povo que não é o que dizem. De outro, um ex-governante que vive de comícios e manifestações vazias contra os que o contestam, mas não dispõe de nenhum projeto de futuro. Ambos negam, mas veladamente disputam a primazia de ser mais parceiro ou mais parecido com o ditador de quinta categoria Nicolás Maduro. No meio do fogo da vaidade dos dois, há um fogaréu transformando florestas em cinzas, dizimando a fauna, adoecendo e matando pessoas e, criminosamente ou não, prejudicando o negócio do agro.

Dito isto, tenho poucas dúvidas de que, caso o Brasil e os brasileiros dependessem do tipo de parlamentar que, além de legislar em causa própria, trabalha para minar as forças de uma nação em crescimento, estaríamos todos no buraco. Do meu catre, fico imaginando o que pensa um familiar de um deputado que acha normal propor a aprovação de um projeto de lei para livrar da cadeia os vândalos que depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Como eu, deve se envergonhar do pai, da mãe, do irmão, do tio ou do padrinho que tem. Se não, é porque merecem o mesmo calabouço.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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