A fome continua a ser o maior problema para Lula na região Nordeste. No sertão, por exemplo, onde a estiagem predomina por longos períodos, a seca não é só da terra. Tem também a seca do afeto, do cuidado, da presença. Crianças com olhos grandes demais para o corpo miúdo vagam pelas ruas de cidades esquecidas, onde o tempo parece correr mais devagar — mas a fome, essa, corre depressa.
No Nordeste, onde a esperança insiste em brotar mesmo do solo rachado, os estados se movem. Procuram jeitos, gambiarras e caminhos para cuidar daqueles que perderam tudo — inclusive o direito ao cuidado. Crianças e adolescentes que, além do luto, carregam a ausência do básico: um prato cheio, um abraço, um futuro.
Programas sociais tentam tapar os buracos, como quem tenta consertar o telhado em dia de chuva. Há escolas que viraram abrigo, há vizinhos que viraram família. E há servidores públicos que, mesmo com salário atrasado, ainda tiram do bolso o que falta no orçamento do orfanato.
Mas o problema é maior que a boa vontade. Porque fome não espera, nem a tristeza. E o Estado, por vezes, caminha com passos lentos demais para acompanhar a urgência de um estômago vazio.
Mesmo assim, resistem. As crianças, os cuidadores, os professores. Resistir é verbo bem conhecido por essas bandas. Entre um pedaço de pão e um sorriso tímido, ainda há espaço para sonhos — e talvez seja isso que mais impressiona: como ainda há esperança onde quase tudo falta.
Porque, no fim, o Nordeste sempre ensinou ao Brasil que é possível florescer até em chão seco. Basta água, sol… e um pouco de atenção.