Notibras

Fonte, quando é boa, serve para repórter e cronista

Já faz um bom tempo que publico diariamente contos e crônicas no Notibras. Por isso, chega um momento em que as ideias para histórias vão se escasseando. Daí, uso uma artimanha que, talvez, outros escritores também utilizem: a crucial figura do informante – na linguagem da redação, fonte.

Pois é, tenho cá as minhas fontes, algumas secretíssimas, guardadas a sete chaves; outras, nem tanto. Aliás, talvez o meu informante mais preocupado com o sigilo seja o Boca. Vamos chamá-lo assim, já que, como ele mesmo gosta de falar: “Edu, o anonimato é a melhor coisa que existe!”

Frequentador de ambientes extremamente prolíferos de acontecimentos quase inverossímeis, caso não fossem todos verdadeiros e que poderiam até sair dos lábios do Papa Francisco, o meu amigo sempre me traz algo que viu ou ouviu na banca do Guima ou, então, na famosa oficina do Leopoldo. Quanto à minha parte, faço questão de não dar pistas de que as histórias se passaram nesses recintos.

O que eu não havia percebido é que o Boca é um excelente personagem para as minhas crônicas. Não pense você em um sujeito que poderia muito bem sair das páginas daqueles mistérios desvendados pelo Sherlock Holmes. Não! Também não seria possível colocá-lo ao lado do outro quase tão famoso detetive, Hercule Poirot.

Não sei se você é afeito aos antigos filmes da Atlântida, quando os impagáveis Grande Otelo e Oscarito provocavam gargalhadas nos cinemas brasileiros. Pois bem, o Boca é uma figura que poderia ficar no meio do caminho entre os saudosos Wilson Grey e José Lewgoy, dois dos maiores atores daqueles idos. É que o meu informante insiste em cultivar um bigode singular, possui aquele olhar de peixe morto, além da voz arrastada para provocar suspense, mesmo quando me revela as coisas mais banais.

O Boca, aliás, trabalha como representante comercial de cosméticos. No entanto, gosta de ostentar aqueles óculos escuros e sempre caminha desconfiado de que está sendo seguido. Talvez ele se imagine em um filme de James Bond, mas sem aquela presença do Sean Connery ou o glamour do Roger Moore.

A minha fonte é um tipo comum, mas com a imaginação de Alice, aquela mesma de um certo país repleto de maravilhas. Aliás, nem sei por qual motivo me deu vontade de escrever sobre o meu amigo. Talvez seja porque acabei de ler o romance “A fonte“, do escritor e jornalista José Seabra.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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