Nesses dias de endurecimento da pandemia tenho buscado as redes sociais como forma de passar o tempo mais rapidamente. Não é algo que faço com frequência, porque, sinceramente, não me interesso pelo sofá, carro novo ou pela namorada da vez de um amigo. Tenho ojeriza a fofocas de televisão, não debato Big Brother, fujo de fotos e participo de lives só por obrigação. Como não tenho e não quero ter Facebook, Twiter ou Instagram, comecei a depurar as centenas de mensagens diárias via zap zap e descobri que, fora o fanatismo bolsonarista e as conversas normais e anormais de família, têm coisas aproveitáveis e mais palatáveis do que as baboseiras ideológicas e as mulheres peladas com as quais nunca tive contato, jamais vi, verei ou terei acesso.
Uma das grandes sacadas foi perceber que viver fora do planeta virtual tem lá suas vantagens. Por exemplo, nunca tinha ouvido falar em Nego Di e não conheço música alguma de Karol Conká. Aliás, nem a conhecia. Meus ídolos tinham recheio e discurso variado. Cor, raça, gênero e opção sexual eram temas sérios e raramente discutidos ou apresentados em horário nobre por realitys com preocupação exclusivamente mercadológica. Havia respeito aos telespectadores e bom senso das pessoas, sobretudo as públicas, que não aceitavam se expor por qualquer R$ 1,5 milhão. Hoje, sem medo de mostrar a escavação do alvado, uma mocinha suburbana que se acha artista resolve, como se fosse algo normal, expor uma tatuagem em local jovem, mas de dimensões anormais.
Leio e, às vezes, repasso somente o que é fato, engraçado e, com certeza, não agride. Os bons pensamentos e as piadas saudáveis – se é que elas existem – contra esse ou aquele político são minhas preferidas. Como a língua é o único músculo do corpo que está ligado apenas a uma extremidade, me permiti lampejos de memória. Lembrando que sou massacrado diariamente por simpatizantes de um grupo com o qual não simpatizo, decidi esquecer os princípios e responder com a mesma acidez. Um dos zaps mais recentes dizia respeito à intenção do presidente da República em “meter o dedo no setor elétrico”.
Em uma enquete imaginária, perguntaram de que maneira o consultado gostaria que isso ocorresse. Pela ordem, as propostas eram as seguintes: descalço, com o pé molhado, na tomada de 220 volts ou todas as alternativas apresentadas. Essa foi a resposta vitoriosa, com 82,9%. Outro zap enviado por um amigo agnóstico revela que determinados segmentos adoram dizer que enxergam o Diabo em todo lugar. Entretanto, quando encontram um ser diferente não acreditam no que veem e preferem chamá-lo de mito. Não conheço a autoria, mas atribuíram a Chico Anysio a frase “se o vírus é chinês e o gafanhoto paraguaio, está na hora de o Brasil exportar políticos para o mundo entender o que é praga”.
Também há retornos à infância quando o meme relembra a pomada Minancora, a que curava “catinga de sovaco, dor nas juntas, nariz entupido, cara espinhenta, frieira braba, braço quebrado e até coração partido”. Entre as atuais, uma merece reflexão: “O Brasil parece o Titanic depois de bater. O capitão não assume que é um desastre, as pessoas continuam bebendo e dançando, enquanto tudo afunda. E estamos naquela hora que não há botes para todos”. Por isso, em tempos difíceis de pandemia, vale lembrar de Avicena, médico e filosofo árabe, pai da medicina moderna, que disse: “A imaginação é a metade da doença. A tranquilidade é a metade do remédio. E a paciência é o primeiro passo para a cura”
“Que a gente perca tudo: a hora, os dentes, a razão em alguns momentos, os sonhos, os sapatos, as roupas e o cabelo. Ao longo da vida, podemos perder qualquer coisa, menos os sonhos e a alegria de viver. Não esqueçamos que nas festas, mesmo as clandestinas, sempre cabe mais um. Nas UTIs, nem sempre.
*Mathuzalém Junior é jornalista profissional desde 1978