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Mano Brown e Criolo

Força do movimento negro, rap, racismo, periferia etc etc

Publicado

Autor/Imagem:
João Paulo Carvalho

Mano Brown, 48, e Criolo, 43, têm diferentes jeitos de expressar suas ideias. Enquanto o primeiro é mais direto e objetivo, o segundo prefere estabelecer metáforas e fábulas para externar sua linha de raciocínio. Fato é que a dupla, mesmo com maneiras tão antagônicas de externar os pensamentos, mostra bastante entrosamento dentro e fora dos palcos.

Os últimos discos de Criolo e Brown, inclusive, dialogam muito bem. Criolo lançou o elogiado Espiral de Ilusão (2017), que homenageia o samba dos anos 40 e 50. Já Brown surpreendeu a todos com o heterogêneo Boogie Naipe (2016).

“Quem conhece o Mano sabe que ele também tem o samba no coração. Isso acabou dando vida ao Boogie Naipe. O Mano me contou que as primeiras experiências musicais dele foram com o pandeiro. Acho que cada um pegou sua porção de audácia e coragem”, lembra Criolo. “Eu gosto de fazer tudo com prazer e devoção. Rap, para mim, é religião”, conta Brown.

No repertório, clássicos das carreiras solos de Criolo e Mano Brown, além de hits dos Racionais MC’s. Ponta de Lança Africano (Umbabarauma), canção original de Jorge Ben Jor e regravada por Mano Brown em 2010, também será tocada no show. A faixa foi produzida por Zegon e Daniel Ganjaman, um dos diretores musicais do espetáculo ao lado de Duani Martins.

Recentemente, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgou a lista de obras obrigatórias para o vestibular 2020 da instituição. Entre as novidades, está a inclusão do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais.

Lançado em 1997, Sobrevivendo foi o segundo álbum da banda e contém clássicos como Capítulo 4, Versículo 3, Diário de um Detento, Tô Ouvindo Alguém me Chamar, Rapaz Comum, Jorge da Capadócia e Fórmula Mágica da Paz

No vestibular, a obra fará parte do gênero poesia. Os candidatos terão que ler na íntegra as letras das 12 músicas que compõem o trabalho. “Fiquei espantado e recebi a notícia de maneira positiva. Era um mundo tão diferente do de agora. A gente era tão jovem. Eu tinha 28 anos quando o disco saiu e estava procurando meus caminhos, o meu norte. Me recordo de cada arranjo, batida e letra. Analisando o álbum 20 anos depois, vejo que é um disco muito pesado”.

– Acredito muito na força das palavras. Hoje, eu pensaria duas vezes antes de fazer algo assim Mas, naquele momento, era meio que uma prioridade. Naquela época (1996, 1997 e 1998), o Capão Redondo foi tri campeão do mundo em número de homicídios. Eu sempre achei que o Brasil era cego e surdo. Tem coisas naquele disco que são muito óbvias para quem é da periferia. Eu particularmente não me assustava nenhum pouco com aquilo. A população não via coisas que eram muito fáceis de serem vistas. Isso é muito assustador. O Criolo, por exemplo, via o que estava acontecendo. Ele mesmo poderia ter escrito este disco. O Sobrevivendo no Inferno era aquilo mesmo: um rapaz comum falando da vida, um pobre tentando romper a barreira de pobreza e do anonimato”, relata Brown.

Política – Sentados sob um banco rústico de madeira em uma simpática casa na região de Pinheiros, na zona oeste da cidade, Criolo e Brown falam abertamente sobre política. Para dois dos mais importantes nomes do rap nacional, o cenário atual nunca foi tão nebuloso e incerto. “A gente vive sob uma sombra. A maior ferramenta do Estado é o medo. Eles criaram essa situação de que falar sobre política é algo chato. Todos deveriam aprender sobre política logo na infância. Nossos parlamentares estão aprovando todas as leis antipovo na calada da madrugada. Isso é grave”, lembra Criolo.

“Agora, mais do que nunca, as pessoas precisam recuperar a confiança. Não é PT, PSDB, Santos ou Corinthians. Eu não posso pensar só em tirar vantagem. O brasileiro está esperando a polícia chegar. Ele pensa que todos são ladrões, como se isso fosse a solução. Vivemos uma maré de baixa estima, que, por si só, já faz um mal do caramba. Eu só vejo solução se o Lula for presidente. Assim, os avanços na parte social vão poder continuar. Se o Brasil não fizer justiça, isso aqui vai virar um Mad Max. Eu vi a vida das pessoas se transformarem no governo Lula. As pessoas passaram a se enxergar diferentemente de como elas se enxergavam. Não só o negro, mas o branco. De baixo do meu bigode. Eu vi as mudanças acontecendo. Daí você vai me perguntar: ‘o quê?’ E eu vou responder: ‘tudo’. Principalmente a visão que o negro tinha dele mesmo. A periferia era conservadora e preconceituosa. Falar que o governo Lula não mudou a vida dessas pessoas é mentira”, destaca Brown.

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