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Formada pela UnB, Priscila cria tecnologia para detectar câncer

Dados publicados em 2014 pela Organização Mundial de Saúde apontam que, em duas décadas, serão descobertos 22 milhões de novos casos de câncer ao ano em todo o planeta. Apesar dos avanços nos métodos de tratamento da doença, o relatório destaca a necessidade do desenvolvimento de ações para diagnóstico precoce, a fim de aumentar as chances de cura dos pacientes.

Há sete anos no Instituto de Microeletrônica de Madri, Priscila Kosaka (35) tem se tornado conhecida no meio científico por desenvolver uma tecnologia capaz de detectar a incidência de células do câncer por meio de exames de sangue, mesmo quando os sintomas habituais ainda não são percebidos no paciente.

A nova maneira – além de bem menos invasiva – possui margem de erro de apenas dois casos em cada 10 mil. Após aprimoramentos, seria capaz de identificar o tipo específico de câncer a que pertenceria determinada amostra.

A técnica também pode diagnosticar outras doenças, como hepatite e Alzheimer. Os resultados foram publicados na edição de novembro de 2014 da revista Nature Nanotechnology e abriram novos horizontes para a pesquisa científica voltada ao tema.

Ainda são necessários novos testes e financiamentos para a continuidade da pesquisa, mas a projeção de Priscila Kosaka é de que o biomarcador esteja disponível no mercado em dez anos e a  preço acessível à população.

“O sensor que usamos é feito com a mesma tecnologia aplicada na fabricação dos chips de computadores. Atualmente, o preço de cada sensor é caro, mas se fabricamos muitos, cai consideravelmente”, explica.

Priscila se formou pela UnB em 2002. Foi durante a primeira experiência acadêmica que a cientista desenvolveu o interesse pela pesquisa. “A formação que a Universidade me proporcionou foi crucial. Durante o curso de Química, tive excelentes professores, que me passaram todo conhecimento necessário para eu me desenvolver como pesquisadora. Sou muito agradecida a todos eles”, conta.

Entre as experiências, a pesquisadora destaca períodos de estágio com os professores Elton Bauer do Departamento de Engenharia e Maria José Araújo Sales do Instituto de Química. “Hoje, Maria José é uma grande amiga e ela foi meu primeiro exemplo de mulheres na ciência”, diz.

A inspiração para empregar seus conhecimentos em prol da sociedade também teve origem na Universidade de Brasília. “Achava impressionante como os pesquisadores aplicavam o conhecimento científico em benefício da indústria ou da saúde das pessoas. No último ano do curso, eu sabia que queria usar o que tinha aprendido para desenvolver alguma coisa útil para a sociedade, mas para isso eu tinha que aprender mais. Tinha que aprender a fazer ciência”, relata.

Já em 2003, Priscila contou com o incentivo da irmã, que fazia mestrado na Universidade de São Paulo, para continuar se especializando. “Achei a ideia boa. Gostava muito da UnB, mas ao mesmo tempo senti que deveria sair um pouco da minha zona de conforto”.

Os primeiros contatos com a nanotecnologia surgiram ao longo do doutorado. Para aprofundar-se no tema, Priscila procurou referências fora do país. Em 2008, apresentou-se a cientistas europeus em busca de oportunidade para o pós-doutorado, conseguiu bolsa do governo espanhol e desde então tem se dedicado aos nanossensores biológicos.

Em fase de total dedicação ao projeto, Priscila e sua equipe têm buscado novos avanços. Observando seu campo de atuação dentro e fora do país, a cientista brasileira acredita que a pesquisa científica, de modo geral, ainda tem um longo caminho a trilhar. A começar pelo reconhecimento de sua importância para o bem comum.

“Sei que no Brasil temos pesquisadores excelentes, que fazem mágica para continuar pesquisando. Pesquisar é caro e o retorno do que foi investido na pesquisa é demorado, mas é isso que vai trazer desenvolvimento e empregos no futuro para um país”, analisa.

Mesmo encontrando seu espaço no exterior, Priscila tem a expectativa de reeditar os estudos e pesquisas em parceria com cientistas brasileiros, que começaram em Brasília há quase 18 anos. “Seria muito bom se algum dia eu pudesse colaborar com pesquisadores não só da UnB, mas de diversas universidades no Brasil”.

Renan Apuk, Agência UnB

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