Cinco semanas já passaram desde o primeiro turno da eleição para o Buriti, e o Deputado Federal Alberto Fraga (DEM), então candidato que não passou para o segundo turno, continua inconformado. O saldo desta campanha foi bastante negativo, com consequências que assombram até o futuro político daquele que perdeu a onda Bolsonaro, quando tinha tudo para estar surfando nela.
Se coerência e firmeza de posições fossem qualidades na política, Fraga seria destaque nacional. Antes mesmo de assumir mandatos na Câmara dos Deputados no fim dos anos 90, a posição linha dura do Coronel da Polícia Militar era conhecida e reivindicada. Foi o líder da Frente pelo Direito à Legítima Defesa, que pedia o NÃO ao referendo das armas em 2005.
A campanha pelo SIM foi quase unânime, unindo governo e oposição, organizações sociais e mídia. O SIM ia acrescentar um artigo ao Estatuto do Desarmamento que proibia completamente a venda de armas. A vitória do NÃO deixou a situação como já estava, e continua vigorando até hoje, com limitações à posse e severas restrições ao porte. O resultado foi inapelável, com resultado nacional de 64 % a 36 % pelo NÃO, e vitória deste em todos os Estados.
Fraga mais que triplicou sua votação para Federal no ano seguinte, passando da casa dos 30 mil para perto dos 100 mil votos.
Tentou o Senado em 2010, mas o rolo compressor Cristovam Buarque era tão forte que se dava ao luxo de pedir votos não só para ele como para seu companheiro de chapa, Rodrigo Rollemberg. Mesmo assim, o Democrata conseguiu ser o segundo mais votado em Samambaia (Cristovam venceu em todas as cidades). Em 2014, Fraga foi o quarto Federal da história do DF a superar a marca de 100 mil votos (após Arruda, Filippelli – duas vezes e Reguffe). Ele foi o mais votado em 14 das 21 zonas eleitorais, vencendo até por 500 votos Rogério Rosso em Ceilândia.
Mas em 2018, os mais de 155 mil votos para Federal viraram… 88 mil para Governador. Em nenhuma cidade Fraga foi o mais votado. Em pequenos locais de votação, com uma urna só, ele chegou à ser o segundo na preferência, na zona rural de Brazlândia. Mas em nenhuma cidade alcançou o trio da frente.
O Democratas, partido que preside, estava na campanha de Geraldo Alckmin, mas sua preferência por Jair Bolsonaro, amigo pessoal, era declarada antes mesmo da corrida eleitoral. É verdade que o General Paulo Chagas (PRP), candidato oficial, foi o maior beneficiário, atingindo 110 mil votos. Mas a “onda Mito” que varreu o DF não repercutiu tanto quanto em outros estados na eleição para o governo. Mesmo adicionando os votos de Fraga e do General, o total ainda teria sido superado pela votação do Rollemberg.
A campanha com poucos recursos (ficaram até contas a pagar no fechamento), os debates “viris” e amarga derrota na corrida ao Buriti poderiam até ser superados. Até mesmo com uma virada para cima no âmbito Federal. O futuro Presidente da Republica está montando sua equipe, Fraga mereceria figurar nela. Só que… Duas semanas antes da eleição, caiu até mesmo em pleno debate na TV a condenação por concussão. É um processo aberto em 2011, que remete a seu período de Secretário de Transportes no Governo Arruda. O juiz sentenciou em 4 anos, 2 meses e 20 dias em regime semi-aberto por considerá-lo culpado de ter recebido uma propina de R$ 350 mil numa assinatura de contrato entre o governo e uma cooperativa de ônibus.
Segundo os critérios de Jair Bolsonaro, e com a concordância do próprio Fraga, condenação… condena a entrada na Esplanada ou no Planalto. A esperança agora é a reversão da condenação em segunda instância.
O processo “desceu” para a primeira instância, no Núcleo Bandeirante, em maio deste ano, após decisão do STF restringindo o alcance do foro privilegiado aos atos cometido durante o mandato do parlamentar. A condenação ocorreu em pleno período eleitoral, enquanto Fraga estava no pelotão da frente nas pesquisas. Primeiramente, o deputado insinuou a existência do “dedo” do atual Governador. Sua declaração oficial na noite mesma do anúncio compara sua situação com a do Rollemberg.
Mas desde então, talvez recebendo informações, sua desconfiança se tornou contra Ibaneis. Ele até confirmou recentemente em entrevista numa rádio que seu “suspeito” era mesmo o futuro Governador, “que se gaba de conhecer todo mundo no Judiciário”.
Assim, não surpreende o rompante com o colega de bancada Laerte Bessa, futuro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Após Agnelo e Rollemberg, Ibaneis terá um implacável opositor. Sem mandato, sem cargo público, mas contando os dias para ver seu destino selado na segunda instância. Se reverter a condenação, será a volta do “Governador, respeite o povo!”.