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Lei de Talião

Franceses ensinam a argentinos racistas onde se põe pingo no i

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Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

Quando a gente acha que viu de tudo no mundo globalizado, eis que o tempo – sempre ele – nos surpreende e se encarrega de colocar os pingos nos devidos is da ignorância e da imbecilidade. Pouco mais de uma semana após os argentinos se sagrarem bicampeões da Copa América e prazerosamente envergonhar o mundo com cantos racistas e transfóbicos contra jogadores da França, os mesmos argentinos sentiram o outro gume da espada. Na mesma França, o hino argentino foi vaiado pelos franceses em Saint-Étienne, antes da derrota da seleção albiceleste na estreia do torneio olímpico. E deverá ser assim ao longo de toda a Olimpíada.

É a justa reciprocidade ou, se preferirem, é a Lei de Talião, que consiste na retribuição de um mal com outro mal equivalente. Pouco me importa a reação dos argentinos a mais esse episódio que lembra a histórica forma com que eles sentem prazer ao se dirigem jocosamente aos semelhantes de pele negra. Sem margem de erro, o que posso dizer a respeito é que, nesse quesito, decepção com o povo argentino é o que me define. A exemplo dos patrióticos parceiros do Brasil, a liberdade de expressão dos deselegantes “patriotas” parece ter perdido o limite. Aliás, eles nunca tiveram nenhum sentimento além de desprezo pelos inferiores.

É o que me permite afirmar que nada demais para um país presidido por um cidadão aloirado de farmácia e que lembra um papagaio com câimbra. Digo isso porque, para el loco de piedra, o racismo protagonizado pelos jogadores da Seleção Argentina não passou de uma brincadeira de meninos felizes após mais um título da Copa América. Seria não tivesse ultrapassado as barreiras do bom senso e do companheirismo entre atletas. Seria não fosse a soberba de um povo que vive sob um PIB igual ao das menores nações africanas, mas ainda se acha com o nariz de europeu. Antes que perguntem, minha ojeriza não é pela Argentina, mas pelos argentinos que tentam fazer do racismo um esporte tão popular como o futebol.

Vítimas preferenciais da idiotizada população argentina, os brasileiros cederam temporariamente a vaga para os franceses. Vídeo gravado pelo volante Enzo Fernández mostra uma ruma de jogadores argentinos cantando música racista e transfóbica dirigida aos colegas da Seleção da França, hoje composta por maioria de negros descendentes de africanos. As imagens que correram o mundo são a prova de que, mesmo há décadas de distância do que já foram, os vizinhos do Prata não aprenderam a lição sobre respeito ao próximo, tampouco os ensinamentos do compatriota Jorge Bergoglio, o papa Francisco, relativamente à igualdade entre os povos.

Assim são os ignorantes e os preconceituosos. Por isso, a pedido de Javier Milei, não se desculparam. Ou seja, para o presidente autodeclarado libertário não basta que os argentinos sejam racistas. Eles têm de parecer racistas. Foi o que fizeram os discípulos dos craques Diego Armando Maradona e de Alfredo Di Stéfano. A diferença é que Maradona e Di Stéfano foram honrados e honraram a camisa albiceleste. Como a maioria da massa argentina, seus sucessores tendem a morrer com os dentes e o toba arreganhados, mas não se comovem diante do sofrimento alheio. E não poderia ser diferente para um povaréu que esqueceu suas origens e que atualmente exporta pobres, mas se regozija de não ter “gerado” negros.

Descendentes originários dos índios querandis, quíchuas, charruas e guaranis, os vizinhos só deixaram o primitivismo em 1516, quando o espanhol Juan Díaz de Solis e seus seguidores conquistaram o país. É verdade que cresceram a ponto de se tornar uma potência econômica no continente. Faz tempo deixaram de ser, mas ainda hoje, apesar da inflação se aproximando dos 300% anuais, se acham argentários. Só se acham. Atualmente, para uma população estimada em 47,1 milhões de pessoas, quase 25 milhões estão abaixo da linha da pobreza. Fortes e francos no racismo e na transfobia, são cada vez mais nocivos no item boa convivência com o mundo globalizado.

E não importa que tenham involuído. Aparentemente, eles se bastam. Prova disso é que, após a negativa repercussão do vídeo zombando da descendência e da cor dos jogadores franceses, o presidente e seus capachos das emissoras especializadas em esporte sugeriram publicamente que o jogador Enzo Fernández não deveria ter pedido desculpas porque não teve a intenção de ser racista. Para esses senhores, o mundo não entende o humor do futebol argentino. É possível. Da mesma forma que é possível que os argentinos não entendam nada do mundo. Talvez não saibam coisa alguma nem sobre eles. Se soubessem não tentariam passar uma borracha negra no passado pouco iluminado do país.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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