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Conhecimento Proibido (Parte I)

Frankenstein e a Alquimia na criação artificial da vida

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Texto e Imagem

O romance de Mary Shelley, tem profundas conexões com a alquimia, especialmente na ideia da criação artificial da vida e na busca pelo conhecimento proibido. O fascínio pela vida e a busca pelo Elixir da Imortalidade sempre foram objetivos importantes no inconsciente coletivo da humanidade. Tão importantes que, antes da ciência moderna, alquimistas buscavam transformar a matéria e descobrir segredos da vida.

Dr. Viktor Frankenstein, o protagonista do romance, é um jovem cientista suíço obcecado pelo segredo da vida e da criação. Movido por sua ambição e desejo de ultrapassar os limites do conhecimento humano, constrói um ser a partir de partes de cadáveres e o traz à vida por meio de um processo que envolve eletricidade. No entanto, horrorizado com sua criação, ele a abandona, desencadeando uma série de tragédias. Como uma divindade, que ao criar o homem o abandona a própria sorte.

A “sua ciência” é uma fusão entre a antiga alquimia e a ciência experimental moderna. Seu conhecimento nasce do desejo alquímico de manipular a vida, mas se concretiza através de técnicas científicas emergentes no século XIX. Frankenstein representa tanto o desejo humano de conhecimento ilimitado quanto os perigos da arrogância científica. O subtítulo do livro, O Prometeu Moderno, sugere uma conexão com o mito de Prometeu, aquele que roubou o fogo dos deuses para dar aos humanos e sofre punição eterna por sua ousadia.

Da mesma forma, Frankenstein desafia os limites naturais e paga um preço por isso. Seu nome muitas vezes é confundido com sua criatura, que nunca recebe um nome no romance, sendo referida como monstro, demônio, abominação etc. Apesar de características anatômicas humanas, a falta de um nome mostra a sua não humanização durante todo o romance, ele não á aceito entre nós!

Nas próximas publicações vamos abordar a visão alquímica no experimento de Victor Frankenstein.

O século XIX foi o período de ruptura entre o oculto e a razão, entre o misticismo da alquimia e a precisão da ciência moderna e do pensamento cartesiano. Os novos laboratórios substituíam os antigos grimórios alquímicos pelos compêndios de novas ciência que surgiam, como a química, a biologia e a fisiologia. Porém, a busca pelo conhecimento proibido e pelo controle da vida persistia, tanto nos experimentos científicos quanto nos sonhos dos ocultistas.

Embora a alquimia tenha perdido seu prestígio acadêmico, ela continuou a influenciar o pensamento ocultista e místico. Curiosamente, no mesmo século XIX, houve um renascimento ocultista, e muitas ordens esotéricas incorporaram princípios alquímicos em seus ensinamentos. E a alquimia migrou para ordens e movimentos como o Hermetismo, a Teosofia (com Helena Blavatsky) e a Ordem Rosa-Cruz, que resgataram conceitos alquímicos, reinterpretando-os em um contexto mais espiritual. Deixando de trabalhar na transformação de metais, os ocultistas passaram a enxergar a alquimia como um processo simbólico de purificação e iluminação da alma.

É nesse mundo em forte transição de embates acadêmicos e filosóficos que surgem romances importantes para a humanidade, como Frankenstein (1818) de Mary Shelley e Fausto (1808/1832) de Goethe, que exploram temas alquímicos abordando a busca do conhecimento proibido e a manipulação da vida. As descobertas científicas do século XIX acabaram moldando o nosso mundo atual. Conhecimentos tidos como extremamente sólidos vão cedendo rapidamente. A química substitui a alquimia, e a teoria dos quatro elementos (terra, ar, fogo e água) é abandonada. A química passou a se basear na teoria atômica, proposta por John Dalton.

Experimentações, como as de Luigi Galvani e Alessandro Volta, mostraram que a eletricidade podia estimular músculos mortos, possibilitando novos entendimentos sobre contração muscular, passagens de estímulos e micro correntes biologicamente geradas. Contrair uma perna de sapo, separada de seu corpo, criou várias possibilidades de pensamento sobre o que é a essência da vida, como cria-la etc. Essa nova ciência chamada eletricidade, possibilitou novas visões sobre esses temas. Isso inspirou Mary Shelley em Frankenstein, sugerindo que a vida poderia ser artificialmente recriada.

Bem no final do século, Charles Darwin publicou A Origem das Espécies (1859), revolucionando a visão sobre a natureza e a criação da vida. E, mais além, o monge Gregor Mendel publica seu trabalho que originou o embasamento de uma nova ciência que será conhecida por “genética”. São os novos alquimistas. O estudo da humanidade e do corpo humano avançou, e a anestesia começou a ser usada, transformando a cirurgia.

Um aspecto interessante no romance de Mary Shelley é o retrato desse ponto de transição entre a alquimia e a ciência moderna, mostrando de forma crua tanto o legado quanto os perigos desse conhecimento transformador. A alquimia sempre esteve associada à transmutação e regeneração, seja pela busca da Pedra Filosofal, que supostamente concederia a imortalidade, seja pelos experimentos de alquimistas como Paracelso, que buscavam entender os mistérios da vida.

Paracelso e Cornelius Agrippa, citados no romance, acreditavam que era possível manipular forças ocultas para criar vida artificialmente. Victor Frankenstein segue essa tradição ao tentar gerar vida a partir da morte e, inspirado por esses ideais, deseja dominar os princípios da criação e superar a morte. Sua obsessão pela alquimia, e suas várias alegorias e mitos, sobre criação da vida irá moldar seu pensamento antes dele ser apresentado à ciência moderna.

A ideia de Frankenstein, de que a eletricidade poderia reviver tecidos mortos, tem ecos das teorias de Paracelso sobre a energia vital e da busca dos alquimistas por forças ocultas da natureza e reforçadas pelos experimentos de Galvani e Volta, que demonstraram a ação da eletricidade em tecidos mortos causando a contração destes. Na narrativa, ele menciona sua fascinação por alquimistas como Cornelius Agrippa, Paracelso e Albertus Magnus, que acreditavam na possibilidade de transformar substâncias e até mesmo criar vida artificialmente. O próprio ato de dar vida a um ser inanimado pode ser visto como um paralelo à Grande Obra (Magnum Opus) alquímica.

A “criação desse novo ser” representa uma tentativa de alcançar a “transmutação suprema”. Agora não é o ouro que interessa, mas o conhecimento e o protagonismo na criação de um novo ser. Os Deuses foram mortos no século XIX e os homens querem se transformar em novos Prometheus, sem a interferência de Zeus ou quem quer que seja. Assim como os alquimistas tentavam purificar e transformar os metais, Frankenstein busca elevar a matéria morta à um novo estado de existência.

A eletricidade já era estudada, e parcialmente compreendida, na época de Mary Shelley. Porém, no romance, a eletricidade é um personagem importante com ressonâncias alquímicas. O vitalismo e seu conceito de um “fluido vital” ou “princípio animador” vem da antiguidade das crenças alquímicas sobre a existência de um agente oculto que injetaria vida à matéria inerte.

Como qualquer prática cientifica ou laboral, a alquimia frequentemente lidava com temas de perigo e transgressão, especialmente quando seus praticantes tentavam rivalizar com a divindade ou manipular forças além de sua compreensão. E o Dr. Victor Frankenstein, ao tentar ultrapassar os limites da ciência e da natureza, repete o erro de muitos alquimistas que caíram na ruína devido à sua ambição desmedida. Seu destino trágico reflete um antigo alerta alquímico sobre os perigos da busca pelo conhecimento absoluto sem responsabilidade.

Existe aí um certo moralismo e alerta quanto a falta de normatizações e limites no que diz respeito às investigações e experimentações práticas da ciência. O legado da alquimia na ciência de Victor Frankenstein, é profundo e multifacetado. Ela influenciou diretamente o pensamento científico do personagem, moldando sua obsessão pela criação da vida. Porém, seu fracasso deve ser visto como uma advertência contra a arrogância desmedida do alquimista ao tentar ultrapassar os limites da natureza e do divino.

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Marco Mammoli é Mestre Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.

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O Colégio dos Magos e Sacerdotisas está aberto aos novos membros, neófitos e iniciados, para o aprendizado e aprimoramento das Ciências Ocultas. Os interessados podem entrar em contato direto através da Bio, Direct e o WhatsApp: 81 997302139.

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