No final da Idade Média, o Mali se tornou o mais formidável império da África Subsaariana que o continente já havia visto. Ele era mais rico do que qualquer outro Estado africano, e com ligações comerciais e culturais que o conectava a muitos dos principais centros do mundo medieval.
Foi realmente incrível. O império atingiu seu auge no século 14. Foi durante essa época que Abu Bakr Keita, o último imperador da dinastia fundadora, subiu ao trono do Mali.
No entanto, o novo imperador enfrentou um desafio sem precedentes: ele era tão ambicioso quanto seus ancestrais, mas seu reino era limitado pelo implacável deserto do Saara de um lado e pelo Oceano Atlântico do outro, deixando poucas oportunidades de expansão.
Mansa Musa, que serviu como conselheiro e aparente herdeiro de Abu Bakr, observou que o desejo do imperador de expandir seu reino cresceu com o tempo, até que se tornou uma obsessão.
No início de seu reinado, Abu Bakr patrocinou uma tentativa ousada de atravessar o Oceano Atlântico, financiando a construção de uma grande marinha, com centenas de barcos.
Quando a frota ficou completa, ele se despediu de seus almirantes, dizendo a seus capitães para não voltarem para a costa do Mali até que tivessem navegado com sucesso até os confins do Atlântico.
Quando apenas um barco conseguiu voltar para casa, ele se arrependeu do que foi dito. Mas não desistiu. Deixando seu tenente de confiança, Mansa Musa, encarregado da administração de seu império, em 1312, ele tentou novamente. Dessa vez, ele liderou pessoalmente a expedição e partiu com uma armada ainda maior de milhares de barcos totalmente carregados.
Nem o imperador nem seus navios foram vistos novamente. Muitos ainda acreditam que ele cruzou o Atlântico com sucesso para fundar um novo Estado do Mali, mas, além de um punhado de belas canções que lembram a jornada, não há evidências concretas de que isso ocorreu de fato.
Embora possamos não saber definitivamente o que aconteceu com a frota de Abu Bakr, o legado de sua ambição desenfreada mudou a natureza do projeto imperial do Mali.
Mansa Musa, que o sucedeu, não compartilhou a fixação de Abu Bakr com o crescimento do império adquirindo novas terras, construindo um forte exército e fortalecendo associações comerciais.
Seu tempo foi gasto superando um tipo diferente de limite. Na cidade de Timbuktu, Mansa Musa defendeu um projeto inspirado no espírito empreendedor de seu antecessor: decidiu construir o maior centro de pesquisa intelectual que o mundo já havia visto.
Os dois homens tentaram alterar o senso de identidade do Mali, mas a resposta quanto a se Abu Bakr teve sucesso é, sem dúvida, encontrar sua frota perdida.
*Historiador cultural e diretor do museu V&A East