Encontro de amor
Fruto de palhaçada pode provar que nem tudo é só de César
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emComecei a lembrar, certa vez observei Cleiton andando por uma rua, no que virou a esquina ele viu; mas isso foi há muito tempo, nem sei mensurar essa distância temporal agora; assim que o rapaz olhou para frente percebeu passar uma passeata de protesto.
Palhaços enfileirados, seguravam cartazes com os dizeres: não somos palhaços.
Notei que Cleiton foi na direção dos palhaços, ficou feliz com aquele movimento. E no meio da muvuca viu uma palhaça que olhava para ele. Sobre o protesto não lembro qual era o motivo do pleito, ou o que reivindicavam, no entanto, ali naquele momento o destino fez uma grande palhaçada.
O amor às vezes tem disso, quando menos se espera, acontece. E daquela vez foi exatamente o que aconteceu. Cleiton conheceu Jandira, foi um amor alegre e suave, com graça e reverência. A palhaça logo de cara se aproximou do desconfigurado rapaz e assim ficaram por muito tempo.
Lembrei daquele antigo momento, porque agora vejo uma passeata que atravessa a rua e me chamou atenção, não pela reivindicação, justíssima, que defendem, mas pela irreverência do ato.
Novamente palhaços, só que desta vez acho que são verdadeiros no sentido figurado da palavra, porque caminham fazendo palhaçadas, provocando o riso, e essa graça não vêm somente através da irreverência da vestimenta. Pessoas comuns não são dotadas destas alegres artes. Diferente do antigo protesto, onde a palhaçada do amor ocorreu, neste o caso é sério, porém, hilário. Rir das desgraças faz parte de nossa rotina.
Não que exista graça em exigir nossos direitos, devemos sempre reivindicar o que achamos justo, afinal, pão e circo para o povo é a base de toda a sociedade, mas o circo tem que ser remunerado, senão a palhaçada corre solta, como vemos agora nessa passeata de protesto.
Desta vez não sei se o amor fará mais um dos seus casos, ou descasos, entretanto, o que vejo daqui é o resultado do encontro daquele passado. O fruto das artimanhas do amor que floresceu da palhaça Jandira do sem graça do Cleiton, que estava à paisana.
Aquele palhaço artista que vem se equilibrando em seu monociclo, fazendo um audacioso malabares com bolinhas coloridas e o fruto que fecundou daquela flor do amor. O palhaço que nasceu da alegria, agora faz jus a sua origem, trazendo uma felicidade que transborda de seu íntimo, mesmo num momento sério de reivindicações justas.
Ficarei na expectativa e torcerei novamente para que a chama do amor ilumine as batalhas artísticas da rua. Quem sabe uma moça à paisana não se encante com a palhaçada daquele rapaz, e espero mais ainda que as demandas sejam atendidas e que nem tudo seja somente de César.