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Furtos em jazigos e funcionário fantasma dão o tom em cemitério paulistano

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Adriana Ferraz

Jazigos violados, troca de caixões, ausência de urnas para armazenamento de cinzas, ossadas expostas. A lista de denúncias contra o Serviço Funerário Municipal inclui até funcionário fantasma nomeado pela chefia.

Tombado pelos órgãos do patrimônio histórico, o Cemitério da Consolação é o principal exemplo do descaso. Sem guaritas, câmeras ou vigias, a primeira necrópole da capital virou alvo fácil de ladrões.

Na quinta-feira passada, a reportagem contou mais de 50 túmulos saqueados. O vandalismo pode ser visto logo na entrada principal, projetada por Ramos de Azevedo. Há uma sequência de túmulos sem porta (ou emparedados por tijolos improvisados), sem placas de identificação e até sem adornos, como anjos de mármore, bronze ou cobre. Parte dessas imagens pesa mais de cem quilos e desaparece do dia para a noite.

Nas três horas em que a reportagem esteve no local, nenhum vigia ou guarda-civil foi visto. Nem mesmo os chamados agentes de segurança faziam ronda. Marcelo Ferreira da Silva, nomeado pela superintendente do Serviço Funerário Municipal, Lúcia Salles França Pinto, é oficialmente um deles. Contratado em outubro de 2015, ele poderia trabalhar na Consolação ou em outro cemitério municipal, mas passou 16 dias de julho na Europa, com a namorada e irmã de Lúcia, a chef de cozinha Daniela França Pinto.

Fotógrafo, Silva não é conhecido entre os funcionários da autarquia. No local onde deveria trabalhar, uma servidora afirmou à reportagem que nunca havia ouvido falar dele. Seu salário base é de R$ 1,4 mil, segundo o portal da Prefeitura.

Para quem teve o jazigo da família depredado, a falta de segurança é problema de gestão. “Como ninguém vê três estátuas de mármore sendo roubadas de um túmulo? Eram obras de arte: um anjo, uma imagem de Nossa Senhora e outra de São José. Além disso, roubaram a placa em bronze com o nome da minha mãe”, diz o advogado José Roberto Bernardez.

A mulher em bronze que “descansava” sobre o túmulo da família de Regina Acras também foi levada do cemitério, em 28 de abril. “Foram cinco furtos. Começou com a porta em bronze, depois as placas e, agora, a estátua. O cemitério era lindo, cheio de obras de arte, e está feio, tamanho o descaso. É de chorar”, diz a fonoaudióloga.

Em razão da onda de saques, parte dos túmulos está sem proteção. É possível ver ossadas expostas e estátuas depredadas, como anjos sem cabeça ou crucifixos partidos ao meio.

Caixão – Também vítima da baixa qualidade do serviço, Wanglil Ribeiro dos Santos, morto aos 27 anos, foi enterrado no Cemitério Municipal São Luis em um caixote improvisado, em 1º de julho. O rapaz pesava 250 quilos e não teve uma urna adequada, segundo a família. “Colocaram ele num caixão quadrado. O funcionário até tentou achar um modelo maior, mas disse que não tinha”, conta o irmão, Wagner Ribeiro, de 34 anos.

Funcionários do Serviço Funerário contam que as agências têm caixões para obesos, mas que o custo é alto, e a família de Santos alegou não ter como pagar o enterro. A gestão Fernando Haddad (PT) disse que forneceu “embalagem de padrão internacional e específica para casos acima de 200 quilos”.

Outro munícipe, que não quis ser identificado, conta que comprou um caixão de luxo para a filha e recebeu outro, de qualidade inferior, em 29 de maio. A Prefeitura reconheceu o erro e disse que ressarcirá a família.

Em nota, o Serviço Funerário informou que neste ano “fez mais de 74 mil enterros, quase em sua totalidade bem-sucedidos”. Mas, em junho, o Estado mostrou que o órgão entregou cinzas de restos mortais cremados na Vila Alpina em sacos plásticos por falha no estoque.

Promotoria – A promotora Lilian Fruet visitou o Cemitério da Consolação na sexta-feira para verificar as denúncias de falta de segurança. Inquérito reaberto neste ano apura as responsabilidades dos furtos, assim como a omissão das autoridades públicas na defesa do patrimônio histórico.

O vereador Nelo Rodolfo (PMDB) pediu a intervenção do Ministério Público e investigação sobre “má gestão e possíveis atos de improbidade administrativa” dos responsáveis pelos cemitérios. Ele estuda pedir abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara.

estadao

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