O fuxico precoce de uma reforma ministerial, já nos próximos 90 dias, que corre nos bastidores do Palácio do Planalto, tem seus alvos aparentemente definidos. Entre eles, dizem, está o diplomata e hoje ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Na terra da piada pronta, opositores internos distribuem a letra de Adoniran Barbosa nos gabinetes: “O Arnesto nos convido prum samba – ele mora no Brás – Nóis fumo e não encontremos ninguém – Nóis vortemo cuma baita duma reiva – Da outra veiz nóis num vai mais – Nóis não semos tatu!”.
O autoconvite de Ernesto ao posto chegou por meio de um artigo publicado por ele e baseado nas teorias de Samuel Huntington, que tentou desconstruir as teorias do aquecimento global, da cultura e da religião. Ao contrário do que muitos pensam, Ernesto, gaúcho de nascimento, mora em Brasília onde cursou Letras na UnB e obteve habilitação no Instituto Rio Branco nos anos 90. Sua credencial para ser chanceler vem do artigo “Trump e o Ocidente” que xerocou Felipe Martins, este, sim, do Brás, assessor do Planalto para assuntos internacionais, e distribuiu entre os formadores do novo governo.
A indicação de Ernesto por Felipe Martins ao presidente eleito, durante a transição, chegou com o apoio do jovem, mas desavisado deputado federal Eduardo Bolsonaro, e do velho exilado Olavo de Carvalho que ama os EUA. Naquele momento – fins de 2018 – a equipe de transição que receberia um MRE esvaziado de suas competências pelos governos petistas, foi às tropas para encontrar um ministro forte, mas surpreendentemente não encontrou ninguém. Então foram de Ernesto Araújo mesmo, que nunca exerceu o cargo de embaixador do Brasil.
Generais experientes internacionalmente e prontos para assumir o posto dispostos a redirecionar nossas relações exteriores voltaram do CCBB com uma baita de uma raiva.
O ministro Araújo, que não nasceu a tempo de amar The Beatles nem Rolling Stones – talvez por não serem estadunidenses -, mas que sonha em ser um cidadão american way of life na próxima existência, agora não caminha mais sozinho. Especialmente após suas declarações, que segundo opositores, são recorrentes em inconveniências políticas internacionais, a partir do discurso de posse.
Os generais credenciados para o cargo e ao alinhamento global na nova política brasileira, preteridos pelos apoiadores do ministro – Felipe Martins, Eduardo Bolsonaro e Olavo de Carvalho -, embora tenham afirmado que da próxima vez não iriam mais, fazem agora o papel de baby sitter do Itamaraty. Ernesto tem que enviar previamente, por escrito, o que pretende dizer quando abrir a boca. Sua última impropriedade verbal foi sugerir apoio bélico das tropas brasileiras a uma possível invasão da Venezuela ameaçada por Donald Trump.
Os comandantes de plantão arrepiaram as sobrancelhas e desconversaram publicamente a megalomania chanceler. Olavo de Carvalho, direto de seu bunker instalado na parte rica das Américas, desmentiu agora o que havia dito convenientemente nas redes sociais, sobre o general mais graduado e vice-presidente da República, Hamilton Mourão, à época em que Ernesto Araújo era cogitado para o cargo: “…estou contente com a escolha do general Hamilton Mourão na chapa de Bolsonaro. Para enfrentar os tremendos desafios que o esperam, o futuro presidente precisará de todo o apoio da classe militar…”.
Recentemente, nenhum comentário Olavo teceu sobre a verborragia de seu pupilo ministro do MRE, que segundo o cientista político Maurício Santoro, é infantil e despreparado. Em compensação, o auto exilado mudou de ideia sobre os generais, incluindo Mourão, ao propagar uma suposta covardia na aproximação desses graduados aos veículos de imprensa, aparelhados pela esquerda. Não considerou o fato de que hoje Bolsonaro é presidente de todos os brasileiros e que existe na tropa uma robusta reserva de mercado. Generais como Luiz Eduardo Rocha Paiva, tido por apoiadores do capitão como demolidor da GloboNews, e Paulo Chagas, aquele que desmentiu os institutos de pesquisa pagos pela grande imprensa nas últimas eleições.
Entre outros, ambos são aptos ao comando do MRE, em caso de emergência, e são coletivos, não têm o hábito de difundir ideias próprias e imprudentes que tragam problemas estratégicos, além de terem o reconhecimento de que exercem a diplomacia naturalmente, com as filigranas que o cargo exige.
Se o Ministério das Relações Exteriores foi dilapidado pelos petistas, que consideravam o presidiário Lula único representante do Brasil para assuntos internacionais (propondo, inclusive, o absurdo da extinção da língua inglesa como exigência para a carreira diplomática), foi o mesmo MRE que caiu no colo de Ernesto Araújo. Que se não prestar continência, vai ser o primeiro a sambar.
Mas, sorry, afirmam os generais. “Nós não somos tatus!”. Sem tradução.