O fuxico é uma arte. Mas não é para qualquer artesão ou costureira. A obra final é admirada, decorativa, uma antiga tradição sem origem determinada. Por meio dessa técnica tradicional são produzidas colchas de retalhos elaboradas, de grande impacto visual que têm espaço nas páginas reservadas em revistas de decoração. O Governo do Distrito Federal (não de Brasília) reinventou o fuxico sem procurar um curso ou até mesmo um tutorial disponível na internet.
Essa colcha de fuxico tem nome: Centro Administrativo do GDF (não de Brasília). Dessa vez a culpa não é mesmo do Rollemberg. Por enquanto… A ideia mais estúpida que um governante poderia ter, nessa dimensão, deveria ser interrompida imediatamente. É um desses escândalos que merecem um exame sobre segurança jurídica muito detalhado e examinado por parte do Ministério Público, que tomou a iniciativa de interromper os pagamentos. É um escândalo sem precedentes e um projeto irresponsável ancorado em uma realidade que deveria ser tratada de outra forma, mais responsável.
O projeto de Brasília (não o do Governo do Distrito Federal) implantou um conceito assinado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, quando criou um espaço inédito reunindo os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário ao redor de uma praça. A Esplanada dos Ministérios é uma inspiração pronta, não havia necessidade de inventar nada tão reprovável e inviável quanto o tal Centro Administrativo localizado em algum ponto entre Taguatinga e Ceilândia, onde haverá um colapso de mobilidade, com ou sem túnel submergindo em Taguatinga.
Qualquer cidadão minimamente observador, sem qualquer especialização no assunto, daria a sugestão de implantar, sob a égide de Costa e Niemeyer, que aplaudiriam a solução, a construção da Esplanadinha. E o que é a Esplanadinha? Uma cópia do projeto original, instalado na outra ponta do Eixo Monumental, entre a Praça do Buriti e a antiga Rodoferroviária. Nesse espaço há, inclusive, especulação imobiliária sobre lotear e leiloar a área para a construção de kits e lojas.
Naquele polígono onde está a Praça do Buriti, já estão instalados os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, inclusive o Tribunal de Contas do DF (não de Brasília) e só falta espaço para o Executivo abandonar os vários contratos milionários de aluguel onde estão inúmeras secretarias locais funcionando, segundo o site do próprio GDF (ou é GB?), pulverizados e espalhados.
O que assusta no site atual do GDF (não de Brasília) é que ele faz uma defesa do projeto tresloucado, justifica a PPP, cujo valor é de 3,26 bilhões da nossa pobre moeda, como se esse assunto estivesse resolvido. E herda outras bobagens: afirma que a porralouquice – neologismo desse escriba – vai ser certificada com o selo Leed. Mais: tem tecnologia de efeito na defesa – basta pesquisar – que é o Bubble Pack (argumenta o GDF, agora sim, de Rollemberg), método de construção responsável por 30% na economia de concreto. É demais.
Dessa forma devemos imaginar que a teoria sobre a fundamentação de levar para aquela área os servidores do GDF (não de Brasília), espalhada no governo de José Roberto Arruda, autor assumido da ideia, é a de que a criação do novo Estado do Planalto Central teria a sua capital ali instalada. E que Arruda já havia negociado com os vizinhos, especialmente com Marconi Perillo, governador de Goiás, a manobra nesse sentido. Achou o nobre leitor um delírio muito grande? É tudo verdade, segundo os órfãos de Pandora.
Mas estamos mesmo em tempos de delírio e lamento não poder viver em Veneza como faz hoje Diogo Mainardi, que anunciou há mais de uma década o que estamos presenciando hoje. A área que a Terracap e os incorporadores atuais desejavam abocanhar no Eixo Monumental poderia sediar todas as secretarias, fundações, empresas do GDF (não de Brasília) por muitas décadas.
Existe nos porões do governo local um projeto pronto do metrô circular na Esplanada. Os veículos seriam estacionados em bolsões fora do polígono e os servidores seguiriam de metrô ou VLT até os ministérios ou órgãos dos governos distrital e federal. Ou utilizando a dupla ciclovia que, afinal, teria uma boa justificativa para estar lá dos dois lados da principal via que é cartão postal de Brasília.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal (que não é de Brasília) abriga atualmente novos parlamentares que têm a mesma visão sobre a aberração do Centro Administrativo que vai caducar em 5 anos. São apaixonados – e não são apenas as parlamentares mulheres – pela ideia da Esplanadinha por ser uma ideia óbvia, com 70% realizados, onde já residem os três poderes locais. O espaço permite expansão gradativa. Contra os 178 mil metros exíguos, sem possibilidade de expansão.
Ao longo do Eixo Monumental, após o Memorial JK até a Rodoferroviária, muitos e muitos prédios públicos poderiam ser erguidos de acordo com a necessidade, respeitando o gabarito tombado, naturalmente, por mais cem anos. Lúcio Costa e Oscar Niemeyer bateriam palmas. Qualquer contrato tem cláusula de rescisão. Pense nisso, Rollemberg, agora que se livrou de Doyle, o breve. Livrou-se mesmo? Desculpe, é só fuxico…
Kleber Ferriche