Não há dúvidas no governo que o crescimento econômico passa por retomar o Banco Central. A princípio, a saída de Campos Neto no fim do ano seria um alento e uma vitória. Porém, o nome mais cotado para sucedê-lo, Gabriel Galípolo, tem se mostrado entrosado até demais com o mercado e afinado com Campos Neto ao aventar uma retomada da elevação dos juros, recebendo críticas do PT e aplausos dos jornalistas.
É claro que tudo isso pode ser apenas encenação para garantir uma transição tranquila na indicação de Lula e na sabatina no Senado. A possibilidade de antecipar o anúncio da escolha faria parte desta estratégia. Há que se ter cuidado, porém, que esta vara torta volte para o lugar de origem.
O risco está justamente em que o legado político de Campos Neto permaneça mesmo sem o próprio. E para isso, do lado de lá, o atual presidente do BC conta não apenas com o coro afinado da mídia, mas também com a cumplicidade de setores financeiros e industriais, úteis quando é preciso criar um clima de terror que justifique os juros nas alturas.
Além disso, Campos Neto trabalha para ?completar? a total autonomia do BC até o fim do seu mandato. E, num cenário político onde o poder divide-se de fato entre os três poderes, o governo precisa travar esta batalha também no Congresso, pouco solidário com a meta fiscal, como se vê nos temas das dívidas dos Estados, na desoneração da folha e nas emendas.