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Galípolo põe país no ninho para galinha chocar

Ao menos no Congresso, o governo Lula teve uma vitória que equivale a vencer a prefeitura de uma grande capital no primeiro turno e de lavada. No caso, a aprovação de Gabriel Galípolo como próximo presidente do Banco Central. Não que se esperasse alguma dificuldade, mas a sabatina e as votações – por unanimidade no Comitê de Assuntos Econômicos e apenas 5 votos contrários no plenário do Senado – foram expressivas, assim como a calorosa recepção ao resultado pela FEBRABAN e a FIESP.

A aprovação é a primeira conquista da lista da pauta econômica que o governo espera passar, ainda este ano, no Congresso e que inclui ainda o aumento das receitas em R$ 36,9 bilhões em 2025, a regulamentação da reforma tributária e, se o vento for favorável, colocar em pauta a elevação para R$ 5 mil no limite de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física. Além disso, a nomeação de Galípolo e o fim do mandato de Campos Neto abrem espaço para o governo retomar o controle do BC, com a indicação de três novos diretores.

Mas a comemoração fica mesmo para 2025, se a gestão de Galípolo iniciar a queda da taxa de juros. A trincheira formada pela Faria Lima e pela mídia continua irredutível em sua defesa dos níveis estratosféricos da Selic, municiados pelo surreal argumento de que ‘O Brasil já cresceu demais’ e de que mais empregos e renda são ‘maléficos para a economia?’.

O argumento central continua sendo o de utilizar a taxa para conter a pressão inflacionária, reforçada pela estimativa de que a inflação vai ultrapassar a meta anual, com novo aumento em setembro puxado pela conta de luz e preço dos alimentos. Curiosamente, será a terceira vez que a inflação estoura a meta dentro do mandato de quatro anos de Campos Neto.

Mais importante ainda, uma pesquisa da USP demonstrou que a política de elevação da Selic reduz a inflação agregada em apenas 0,02 ponto porcentual após 24 meses. Na outra ponta, cada aumento de 1 ponto percentual tem impacto bruto de R$ 50 bilhões em 12 meses na dívida pública federal. A unanimidade de Galípolo entre o mercado e o governo tem prazo de validade para acabar justamente quando começar seu mandato, e o novo presidente do BC precisará escolher entre manter a máquina da especulação financeira funcionando ou dar o fôlego que o governo precisa para destravar a economia.

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