Galo por Galo, o da Madrugada brilha mais que o de Minas

Todo mineiro que se preze já sentiu na pele a dúvida cruel do verão: descer para Guarapari ou se aventurar em novas paragens? O Espírito Santo, com seu mar azul que parece estendido só para os visitantes de Minas, é quase uma segunda casa. De Itaúnas a Anchieta, passando pelo agito eterno de Guarapari, os sotaques se misturam, os queijos ganham gosto de moqueca e o pão de queijo divide espaço com a casquinha de siri.

Mas eis que chega fevereiro, e uma inquietação toma conta dos atleticanos. Porque galo por galo, sejamos sinceros, por mais respeito que mereça o de Minas, quando o assunto é Carnaval, o Galo da Madrugada brilha mais. Não é questão de paixão clubística, mas de pura euforia: o bloco é o maior do mundo, arrasta milhões pelas ruas do Recife e carrega consigo um nome que soa como um chamado irresistível para qualquer torcedor alvinegro.

E assim, enquanto muitos ainda aproveitam as areias capixabas, outros partem rumo ao frevo. Trocam o banho de mar pelo banho de gente, a tranquilidade da Praia do Morro pelo turbilhão do Marco Zero. E se no estádio eles entoam cânticos para empurrar o time, em Pernambuco deixam-se levar pelo coro ensurdecedor que faz o Galo levantar voo ao amanhecer.

Mas, como todo Carnaval, esse também tem seu fim. Chega a quarta-feira de cinzas, e os atleticanos, ainda com os pés doloridos de tanto frevo, pegam a estrada de volta. O eco dos clarins do Galo da Madrugada ainda vibra nos ouvidos, misturado ao barulho da BR. No retrovisor, Recife vai ficando para trás, enquanto cresce no peito aquela nostalgia boa de quem viveu um Carnaval inesquecível.

De volta a Minas, já em terras altas, eles suspiram diante do horizonte montanhoso. O coração se acalma, mas a promessa está feita: ano que vem, tem mais. Porque o mar de Guarapari sempre estará ali, fiel e convidativo, mas quando fevereiro chegar, o Galo – aquele que brilha mais – chamará de novo. E quem resiste?