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Gandhi volta para lembrar que ‘quem não vive para servir, não serve para viver’

Atribuída ao estadista, ativista e pacifista indiano Mahatma Gandhi, a frase “Quem não vive para servir, não serve para viver” pode ser usada para inspirar a ideia de que o papel do líder é inspirar e ser exemplo. Pode ser usada para quase tudo, inclusive para mostrar a quem lidera que o desafio da liderança é ser forte, mas não rude; ser ousado, mas não um valentão; ser orgulhoso, mas não arrogante; ter humor, mas sem loucura. Traduzindo para a linguagem capaz de ser entendida até mesmo pelos estultos que se imaginam inteligentes, a chave da liderança bem-sucedida é a influência, não o autoritarismo, tampouco o despotismo.

Não é, nunca foi e jamais será o caso de Donald Trump. Apesar de todo o poder que lhe é conferido como presidente da maior economia do planeta, ele morrerá como O Aprendiz, reality show que coproduziu e comandou na TV norte-americana. O programa foi o responsável pela falsa imagem de sucesso do mandatário republicano. Reproduzido no Brasil, a versão tupiniquim do reality também criou efêmeros aprendizes televisivos de feiticeiro e supostos longevos mitos doutrinadores de caranguejais espalhados pelo país. Tudo no melhor estilo do poder acima de tudo e de todos.

Além do sadismo e da satisfação pessoal com a desgraça alheia, os perfis de Donald Trump e de seus seguidores no Brasil, na Argentina e em outras paragens são a prova de que os insensatos se deslumbram facilmente com o poder. Às vezes, até com a sensação de poder. Experimentamos isso recentemente no Brasil. Lá, aqui e acolá, a briga insana pelo comando absoluto mostrou ao mundo que a possibilidade de dominar um povo ou toda a sociedade faz qualquer pretenso rei enlouquecer. Faz coisa muito pior. Pelo menos eles nos dão a chance de confirmar a tese filosófica de que o poder e o dinheiro não mudam as pessoas. Simplesmente as revelam.

E revelam por inteiro. Trump se elegeu para seu segundo mandato na Casa Branca afirmando que só desejava a paz. O que estamos vendo é exatamente o contrário. O que está sendo mostrado ao planeta é que o excesso de poder favorece o abuso. Me lembra uma passagem bíblica, segundo a qual “O pão que se amontoa, de sobra, costuma servir de pasto aos vermes que se alegram no pasto”. Em um mundo de bilhões de seres humanos, é inaceitável que somente um queira ser o dono de todas as chaves do globo. O republicano nunca será. Acabará com aprendiz de chaveiro. Os recentes recuos nas tratativas com China, Canadá e México revelam que quem tem aquilo tem medo.

Todavia, antes que ele caia no próprio buraco, alguém precisa informá-lo que o compromisso dos principais líderes deveria ser com a construção de sociedades eticamente edificadas e capazes de promover e concretizar a justiça social e a fraternidade entre todos os homens. De nada adiantará, pois para esse tipo de pessoa o poder tem um sabor que vicia. Por isso, é raro quem consegue deixá-lo sem articulações escusas e violentas para mantê-lo. Quem não se lembra das tramas golpistas que culminaram no dantesco episódio de 8 de janeiro de 2023? Voltando à Mahatma Gandhi, Trump não deve esquecer que “O sucesso não está apenas na conquista, mas em todo o percurso”. O “estadista” Jair Bolsonaro se esqueceu disso e deu no que deu.

O salvador da pátria Luiz Inácio também perdeu o rumo, mas ainda tem tempo de recuperar a trilha. O que nenhum governante deve esquecer é que o poder tem prazo de validade. Um dia ele acaba. Nesse dia, o mais poderoso dos homens não será mais do que um cego à beira do penhasco. No caso de Donald Trump, nada mais autoexplicativo do que a frase de Abraham Lincoln, o 16º. presidente dos Estados Unidos: “Dê poder ao homem e descobrirá quem ele realmente é”. Os americanos da direita repulsiva escolheram livremente. Portanto, quem pariu Trump que o embale. Façam isso antes que o mundo vire de ponta cabeça. O problema é que uma regurgitada dos loucos atinge alucinados, noiados e tresloucados, mas também os normais, disciplinados, sensatos e equilibrados dos cinco continentes, inclusive do Brasil.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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