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Diploma de macho

Garanhão do Brasil virou ‘pai vento’ lá em Portugal

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Reprodução Elo7

Castigado física, emocional e sexualmente pelo tempo, meu avô Aristarco Pederneira de Araújo merece um descanso tranquilo. Por isso, decidi deixá-lo em paz. Se voltar a falar dele será somente en passant. Para encerrar a trilogia de quatro textos, Aristarco, um português sacudido e serelepe do distrito de Trás os Montes, no Nordeste de Portugal, enxergava mais vivamente com o olho esquerdo. O direito normalmente estava com a pestana voltada para a luz verde da casa vermelha. Tipo senha combinada, se a lâmpada estivesse acesa dom Simas Turbano, apelido do vô, dava meia volta e esperava o momento oportuno. O problema é que, figura carimbada do templo do amor, onde descabelava o palhaço como poucos, ele raramente pagava pela perfumada e tenra carne que consumia quase diariamente.

O fiado nada tinha a ver com uma norma, tampouco coisa de costume. Era um regalo das meninas a quem já havia gastado demais com a prática da saliência e, principalmente, o reconhecimento das moçoilas com quem ainda entendia bem do riscado. Para dona Anastácia Sabugosa, espanhola de berço e proprietária do respeitado recinto da bateção de virilha, isso era de somenos importância. Tanto que ela o tinha na conta das personas non gratas do estabelecimento. Embora desgastado pela idade, o velho Aristarco não batia prego em sabão, muito menos aceitava estimulantes do tipo catuaba com arnica e pinceladas de gengibre.

Com ele, era ferro na boneca. Tossia pelas duas bocas, convivia com problemas sérios de ejaculação precoce, mas se valia do diploma que conquistara em uma das épicas pelejas sexuais do bordel periférico. Contam alguns de seus contemporâneos, que vovô Aristarco chegou ao imbatível recorde de oito sapecadas em uma hora. O segundo colocado, um paraibano da bucólica cidade de Cajazeiras, não passou de uma em oito horas. Desconheço os detalhes, mas soube recentemente que, quase no fim da auspiciosa carreira, o velho Pederneira acabou conhecido no reduto por ceguinho das cavernas.

Dizem os mais antigos que o apelido nem tão honroso foi repassado aos sacanas do bairro pela mais antiga servidora da casa de facilidades. De nome Serafina Tala Larga, ela espalhou pelos quatro cantos da corrutela onde o velho vivia que ele, lá pelas beiradas dos 90, já fazia sexo em braile. Conforme a safardana, às vezes nem isso. Dizia a piriguete da Arca de Noé que meu nonagenário vô mais parecia uma daquelas bombas de bufar vento. Verdadeira ou não, a história do garanhão que virou pai vento chegou a Portugal, mais precisamente a Trás os Montes.

Reconhecido mundialmente como exportador de testosterona, ou seja, de grandes e eficazes reprodutores, o berço de Aristarco Pederneira se revoltou diante da bombástica e estapafúrdia revelação de que um nativo do tipo molhador do biscoito estava expirando ar pelo canal da ventosa. Como um cidadão de Trás os Montes, mesmo aos 90 e alguns anos, falha em frente a uma chinoca recém-desvirtuada? A pergunta jamais foi respondida. Nem precisava, pois, na primeira e última visita que o velho fez à cidade em que nasceu, sua presença acabou mais eloquente do que qualquer texto produzido por Eça de Queiroz, em parceria com Luiz de Camões e Saramago Pinheiro.

Passeando pelas ruas azeitonadas do distrito lusitano, parou defronte à matriz de São Pinto, onde foi batizado e recebeu as bênçãos de dona Maria Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana de Bragança, a rainha Maria I, depois rebatizada como “Rainha Louca”. Antes mesmo que dissesse a minha avó que foi naquela igreja que jurou para padre João XXIII que, no Brasil, ele nunca comungou, Aristarco Pederneira foi surpreendido pelo abraço entusiasmado de um amigo de infância. Não foi um cumprimento de saudades, mas de desafogo. Para aquele excomungado, meu avô foi a salvação do seu dia. Arrastando uma bicicleta pelas mãos, o sujeito, com a maior cara de pau desse mundo, pediu o bigulim do velho emprestado para encher o pneu de sua bike. O tempo fechou e até hoje ninguém conseguiu saber se o camarada seguiu caminho montado na bicicleta ou se saiu com ela na carcunda.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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