Os garis da Comlurb que voltaram a trabalhar denunciam que foram obrigados a parar com a greve, que foi considerada ilegal pela Justiça do Trabalho em 1º de março. Além de demitir 300 funcionários da autarquia, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, teria colocado a Guarda Municipal supostamente para proteger os garis que não aderiram à paralisação, quando na verdade, os colocou para vigiar quem não fosse trabalhar.
Um morador do Rio, que preferiu não se identificar, postou a seguinte denúncia nas redes sociais: “Passei há pouco pela Visconde de Pirajá (rua de Ipanema), vi alguns garis trabalhando e um caminhão de lixo logo a frente. Parei para perguntar a um deles se a greve havia acabado e ele me apontou um grupo de guardas municipais do outro lado da rua. “A gente tá sendo ameaçado… Nosso salário tá defasado desde a época de César Maia e não pode fazer greve”, ele disse. Os guardas (e dois carros da guarda municipal, que não consegui pegar na foto) acompanhavam do outro lado da rua, enquanto os garis e o caminhão seguiam. Além do absurdo de serem obrigados a trabalhar dessa forma, essa prefeitura de merda ainda tenta fazer parecer que estão trabalhando por livre e espontânea vontade em plena greve. De fato, se ele não tivesse apontado, eu não teria percebido, como acho que quase ninguém notou o que estava acontecendo. Cidade maravilhosa para quem?”.
O texto continua: “(Apenas uma observação: após os mais de 7.000 compartilhamentos desse post, muita gente que não conheço me mandou mensagem – algumas até bem agressivas -, dizendo que os guardas estavam, na verdade, protegendo os garis que resolveram trabalhar de possíveis agressões dos grevistas. Pode ser que isso tenha acontecido em alguns lugares, sim. Nesse caso que presenciei, porém, ficou bastante claro que o rapaz com quem conversei achava a greve justa, mas estava sendo ameaçado caso NÃO trabalhasse. Por ameaça, não digo que os GMs fossem bater neles se eles não recolhessem o lixo, mas os guardas estão a serviço da prefeitura, e não vai ser o Paes que vai ficar observando se os garis estão fazendo o trabalho direito ou não, então alguém tem que fazer isso, né? Não me referi a ameaças de agressão física ou verbal. Ficou claro que eles estavam como meros observadores, mas isso não torna a ameaça menos grave. E o que entendi da ameaça em questão diz respeito à possibilidade de serem demitidos, o que não é nada impossível de acontecer, já que sabemos que houve a demissão em massa de 300 deles)”.
A artesão Cris David, cujo marido é funcionário da Comlurb, confirma a denúncia: “Meu marido está sendo mantido preso com outros garis na gerência de Campo Grande (Zona Oeste). Se saírem serão demitidos os faltosos, até às 6 horas da manhã. Ordem do gerente Everaldo. Isso é cárcere privado! Escravos? Um absurdo! Não podem trabalhar, então, não podem voltar para casa…nem na delegacia podem ir…estão sendo ameaçados pelo presidente”, denunciou.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, condenou a postura da prefeitura. “Absurdo o comunicado de demissão de 300 funcionários que realizaram greve para exigir melhores condições de trabalho e salário. A luta por dignidade não deve acabar! E como as autoridades lidam com isso? Na base do gás lacrimogêneo”, protestou o parlamentar.
Ontem, Paes anunciara que a partir da madrugada desta quinta-feira, escoltas armadas vão acompanhar todos os caminhões da Comlurb para garantir a coleta. Durante entrevista coletiva, o prefeito afirmou que a maioria dos garis compareceu ao trabalho durante o carnaval, mas foi impedida de trabalhar por “delinquentes”, inclusive grupos armados.
Paes também disse que vai suspender todas as demissões para os garis que retornarem ao trabalho até esta quinta-feira nos seus respectivos turnos. A decisão foi tomada depois de pedido do defensor geral do estado Nilson Bruno Filho, que se reuniu mais cedo com o representante dos garis grevistas.
Para viabilizar a escolta, a prefeitura está contratando empresas de segurança privadas. Uma decisão da Justiça do Trabalho divulgada ontem determinou que a multa para o sindicato dos garis passou para R$ 50 mil para cada dia de descumprimento do acordo que estabelece volta imediata da coleta de lixo. A greve que começou no sábado, deixou as ruas do Rio cheias de lixo em pleno carnaval.
Centenas de varredores protestaram no sábado e domingo para exigir uma alta salarial de R$ 803 para R$ 1.200, o pagamento de horas extras e outros benefícios.