Há alguns anos, estava passeando com a minha mulher, a Dona Irene, na linda praia de Cabo Branco, em João Pessoa, onde várias pessoas estavam praticando algum esporte. Passamos por um campo de futebol improvisado na areia, onde rolava uma partida bem disputada, mas sem aqueles passes formais, aquelas jogadas ensaiadas e nada de esquemas táticos fixos que nos causam tédio, típicos dos profissionais.
Virei para a minha amada e disse que eu gostava de ver aquilo. Ela até estranhou, talvez não acreditando em mim, pois sempre me mostro arredio quando ela me chama para assistir a algum jogo na televisão, especialmente masculino. O futebol profissional feminino até é legal de se ver, talvez porque elas ainda não estão tão presas aos esquemas táticos, que tornam o futebol televisionado tão chato.
“Ah, mas o importante é vencer!”, dizia um antigo colega, chamado Jailson, fanático torcedor do Vasco. Desculpe, mas não penso o mesmo, pois não consigo ficar parado vendo um jogo igual a tantos outros e depois sair comemorando a vitória ou chorando a derrota, dependendo do resultado.
O esporte não é apenas vitória, não é mesmo! Para ser mais específico, vou relembrar uma partida que aconteceu nos idos de 1981 entre o time do Jailson e o meu Botafogo. Pois bem, eu me recordo do placar (3 x 1), que me fez sorrir muito naqueles tempos, mas a coisa que mais me marcou na partida foi justamente um drible homérico que o antigo ponta-direita cruzmaltino, o Wilsinho, aplicou sobre o zagueiro do meu time. E eu, que sempre fui peladeiro, tentei por diversas vezes aplicar aquela finta, acertando uma ou outra.
Infelizmente, estamos cada vez mais enaltecendo o vencedor, independentemente de como se deu essa conquista. Parece que deixamos para trás aquele sentimento lúdico, inclusive quando muitos de nós nos metemos em alguns campeonatos de rua ou de bairro. Não temos mais prazer em jogar bola ou praticar qualquer outro esporte. Queremos vencer, vencer e vencer e nada mais.
Todavia, graças àqueles atletas de fim de semana, sejam meninos de 8, 15 ou 80 anos, alguns completamente fora de forma, diga-se de passagem, ainda podemos assistir a uma boa pelada, onde, a qualquer momento, pode surgir, ali mesmo, um novo drible, talvez sem aquela habilidade do Wilsinho, mas que nos faz sorrir e aplaudir. “Ganhei o dia!”, pensaremos e, se formos daqueles tagarelas, contaremos o que vimos para nossos amigos, seja numa roda de bar, seja até mesmo na esquina da nossa rua.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
Compre aqui
http://www.joanineditora.com.br/57-contos-e-cronicas-por-um-autor-muito-velho