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Senilidade explícita

Gaúchos querem mais que mesas com bolinhos de “patriotas”

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Rafa Neddermeyer/ABr

Do Oiapoque ao Chuí, passando pelos arroios do Rio Grande do Sul e pelos arrotos diários de pseudos salvadores da pátria, viver atualmente no Brasil é um desafio que assusta até mesmo os deuses do Olimpo. Resiliência, perseverança, paciência, coragem, vontade e fé são as palavras de salvação. Cada um que se encaixe onde a carapuça servir, mas, às vezes, a ignorância, a intolerância, a ganância político-econômica, o negacionismo e o patriotismo exagerado nos obriga a sentar, refletir e cobrar de nós mesmos e dos vizinhos mudanças radicais e efetivas de determinados conceitos e valores deixados deliberadamente no fundo dos baús da vida.

Havia jurado a meus pares esquecer definitivamente a estultice dos que não se dão conta de que sua nocividade como cidadãos gera cânceres incuráveis, gripezinhas malditas, divisões irreparáveis e enchentes anunciadas. De imediato, a sugestão que surge como lenitivo para os maldosos é que cuidem de suas cabeças, antes que elas virem exposição nos postes e nos alambrados das cidades, estados ou país que querem ver arruinados. É bom que saibam que bombas-relógios quando explodem não atingem somente aqueles que as confeccionam ou os que as acionam.

A exemplo de entidades filantrópicas de fachada, os que se vestem com o manto de “patriota” normalmente se assanham nos dias de festa. Nas datas e reuniões festivas, lá estão todos os brasileiros com esse perfil perfilados como se santos fossem. Que bom para os gaúchos, para o Brasil e para o mundo se eles tivessem a mesma determinação contra as crises e, principalmente, contra as catástrofes. Provavelmente, teriam desfecho menos macabro a pandemia de Covid-19, a invasão das sedes dos Três Poderes e, agora, o cataclisma que despencou sobre o Rio Grande do Sul.

Embora seja defensor da unidade humana, sugiro que não contem com o povo que atende pelo adjetivo conservador. É de bom alvitre registrar que conservadorismo não é sinônimo de radicalismo, muito menos de ódio pelos diferentes. O conservador a que me refiro é aquele que só pensa até o próprio umbigo. Passou daí, é inimigo e precisa ser dizimado. Conheço muitos deles. A maioria é de razoável a boa convivência. Todavia, uma parcela expressiva sabe muito pouco da vida em sociedade.

São exímios arrumadores de mesas com bolinhos, canapés, tábuas de frios e muita, muita sacanagem do tipo sacanagem mesmo. Também são craques em negar que estão cagando para a desgraça alheia. Fosse mentirosa essa afirmação, boa parte dos “patriotas” estaria ajudando a resolver os problemas dos gaúchos e não atiçando, via redes sociais, o conflito com os que efetivamente trabalham para minimizar o caos do Rio Grande. Noticiar que o governo central e o Supremo Tribunal Federal estão escondendo os verdadeiros números da catástrofe gaúcha é sinal de senilidade explícita.

Pior ainda é a patriotada e os irrelevantes tucanos da massa perfumada acusarem o governo federal de politicagem com a tragédia climática no Rio Grande do Sul. Acompanhando a loucura criminosa de um mito entregue às baratas, a claque do esgoto, mais uma vez às escondidas, reverbera que Lula só está socorrendo o povo gaúcho para “roubar” votos dos bárbaros. Basta uma rápida pesquisa no noticiário pré-eleições de 2018 para saber de quem é a expertise em pungar votos e fazer vídeos mentirosos de autopromoção. Com todas as vênias aos malucos em fase de recuperação, mas usar percalços como chamamento para o ringue não é mais caso de simples internação. É de recolhimento a sanatórios invioláveis, impenetráveis, imbrocháveis e insaíveis. Em outras palavras, que fiquem por lá até que reencarnem como pessoas palatáveis.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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