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Gayer, sem vaga no poleiro, compara nordestino a galinha

Em Goiás sobram sertanejos, agricultores montados em caminhonetes de luxo, vendedores de roupa na Rua 44 e nas feiras do Sol e da Lua e também exportador de pequi para o Brasil e para o mundo. Para que não haja confusão com aquele outro trem que come terra, boi e conta bancária, é bom repetir que a exportação é de pequi, aquele bicho que se come com arroz, quiabo e galinha ensopada. Tem gente que morde o fruto, outros que chupam, mas a maioria apenas rói até chegar no caroço. Como se vê, em Goiás tem de tudo um pouco, inclusive deputados fora da curva, como o bolsonarista preconceituoso que compara nordestinos a galinhas.

Lembrando o ex-líder soviético Josef Stalin, que teria depenado uma penosa em público, o parlamentar goiano Gustavo Gayer (PL), insatisfeito com a falta de poleiros no Congresso Nacional, particularmente na Câmara, comparou a anedota russa “com o que a esquerda faz com o Brasil e, principalmente, com o que a esquerda faz com o Nordeste”. “Estão dando migalhas para uma população cada vez mais depenada”. Como foi feita em um recente evento público, a palhaçada não deve – e não será – avaliada somente como uma brincadeira de mau gosto.

Inicialmente, os numerosos galinheiros do Nordeste não produzem porcos, caninanas peçonhentas ou parasitas disfarçados de “patriotas”, mas animais de pena que, na pior das hipóteses, ciscam somente para frente. Depois, a maior parte da produção é guardada para consumo dos goianos malcriados que procuram as lindas e esverdeadas praias nordestinas para se recuperar do fracasso de seus berços intolerantes a povos trabalhadores e honestos e a pessoas de caráter. O mais importante é que as “galinhas” do Nordeste jamais circulam no terreiro de patos tão diminutos.

Essencial para a independência do Brasil e para a manutenção da democracia nessa segunda década dos anos 2020, o nordestino não tem culpa de o tal parlamentar ter nascido mal. Os nordestinos também não podem ser culpados pelos votos depositados em um cidadão obscuro e inoperante socialmente. Afinal, cada um come na pocilga que merece. Como filho de uma alagoana, faço minhas as palavras dos deputados – foram vários – que recorreram ao Conselho de Ética da Câmara com um pedido de cassação do mandato de Gustavo Gayer.

Conforme os recorrentes, “intolerância e ódio não condizem com a postura de um parlamentar”. É a mais pura verdade. Do tipo criado com a avó, Gayer é conhecido em Goiás pela disseminação de notícias falsas. Como youtuber do mal, usou as fakes news para lucrar com a morte de milhares de brasileiros durante a pandemia de Covid-19. Para quem já comparou o QI da população da África ao de macacos e vinculou a afrodescendência do ministro Silvio Almeida a uma suposta inferioridade intelectual, nada de estranho para um anormal comparar nordestinos com galinhas.

Os goianos com instintos menos animalescos precisam dizer ao deputado que lambe botas do clã Bolsonaro que, para um negro que vai, mais um negro virá. Não conheço e quero distância de quem o conhece, mas restam poucas dúvidas acerca do passado recente do parlamentar do Partido das Lágrimas, o mesmo que abriga homens públicos de trajetórias nada republicanas. Provavelmente ele é mais um dos goianos que tentaram e não conseguiram parceiro também frustrado com a vida afetiva para formar uma nova dupla sertaneja. Isso não é tarefa das mais difíceis para quem é conduzido apenas por interesses e não por sentimentos. Aos eleitores do dito deputado, digo apenas que políticos ruins não caem do céu. Vocês é que os elegem.

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