Quatro oficiais das mais altas patentes (dois generais de quatro estrelas, um almirante de Esquadra e um tenente-brigadeiro do Ar) guardam o ranço do regime militar que fez jorrar sangue de democratas brasileiros nos anos de chumbo. Aprovou-se, no caminho da redemocratização do país, uma anistia ampla, geral e irrestrita. Mas hoje, passados quase 40 anos desde aquele ainda pulsante janeiro de 1985, Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Marco Antônio Freire Gomes (Exército), Almir Garnier Santos (Marinha) e Carlos de Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica) submetem-se a um subalterno da caserna, fato inédito no âmbito das Forças Armadas, para, obedecendo ordens do tenente Jair Bolsonaro, insuflarem o gado perdido que rumina um golpe militar após a fragorosa vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas.
Os quatro estão cumprindo aviso prévio em seus respectivos cargos. Com a pose de Lula, no próximo 1º de janeiro, envergonhados, pendurarão as fardas que hoje desrespeitam, vestirão seus pijamas e terão seus nomes riscados da história. São militares que tentaram nos últimos dias fazer do Brasil um Olimpo, com a esperança de assegurar, cada um, uma cadeira de semideus ao lado de um mito de barro. Para tanto, rasgaram a Constituição e, como um tiro no pé, defenderam, em nota pífia, os agora pequenos focos de nazistas e fascistas que tentam evitar a posse de Lula.
Como o trio Moe, Larry e Curly, acrescido de Jerry Lewis, pregam que os bolsonaristas golpistas têm total liberdade de se manifestarem contra os resultados das urnas. E advertem que as autoridades constituídas (no caso, os ministros do Supremo Tribunal Federal) não podem dar um fim à ação dos baderneiros que ainda insistem em jogar lenha na fogueira. Palavras vãs, cuja inutilidade é repudiada pela sociedade que tem ao seu lado a Carta Magna. Constituição, aliás, que começa a ser espalhada em todos o rincões do País por D’Artagnan, com a ajuda de Athos, Porhos e Aramis. Se são quatro os patetas, nada melhor do que quatro leais mosqueteiros para colocar ordem na casa e acabar com a ladainha, também, de bispos que vivem de dízimos de miseráveis que não têm pão na mesa.
Militares existem para garantir a segurança do Brasil contra ameaças externas. Constitucionalmente, não devem jamais fazer o papel de juízes de um processo eleitoral. Podem votar e ser votados, mas não tumultuar. Caxias, do seu túmulo, por certo sente-se envergonhado pelos gestos antidemocráticos desses quatro patetas. Se não houve fraude, como disseram há 24 horas, por que, numa espúria tentativa de intimidar, vêm agora dizer que a bagunça do gado deve continuar?
Com os feriados da próxima terça-feira, 15, e o 25 de dezembro, somados os meio feriados de dias de jogos do Brasil na Copa do Catar, os Moe, Larry, Curly e Jerry Lewis brasileiros terão tempo suficiente para colocar as barbas de molho e lerem um pouco sobre a nossa Constituição Cidadã. Se não aprenderam nas academias militares, ficarão sabendo verdadeiramente que o poder emana do povo. E o povo, para a desgraça desses patetas travestidos de pseudos comandantes, e do mito de pernas de palmito, escolheu Lula.
Post scriptum – A título de sugestão, façam como estão dizendo os vencedores. Aceitem que dói menos.