Um grupo de oficiais de alta patente formou um escudo para blindar Gustavo Bebianno na crise política construída por Carlos Bolsonaro, ao desmentir pelas redes sociais frase atribuída ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, de que teria falado com Jair Bolsonaro por três vezes, em um mesmo dia, sobre os laranjas do PSL. Três é um número cabalístico. Transporta a Pedro, a Cristo, a religião. E a traição.
Bebianno é forte, sagaz, polido e inteligente. Além de amigo do presidente. Quem articulou a campanha vitoriosa de Bolsonaro foi o atual ministro. Ele abriu as portas do partido ao então candidato quando foi procurado por um grupo de generais. E esses mesmos militares entram em cena agora para desarmar a bomba que mira o governo como um todo.
O embate Vereador x Ministro transformou o Palácio do Planalto em uma imensa fogueira política. Bolsonaro tomou partido ao ficar ao lado do filho que quer derrubar o dono do partido. “Se (o Bebianno) estiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, afirmou o presidente em declarações depois de desembarcar em Brasília, ao término dos 17 dias que o ressuscitaram da facada no período eleitoral.
O ministro Sérgio Moro entrou no circuito. Foi orientado por Jair Bolsonaro para entregar o caso dos ‘laranjas do PSL’ à Polícia Federal. E as investigações já começaram. Os responsáveis pela apuração ganharam carta branca. A ordem é evitar que o PSL fique contaminado. E se houver uma laranja podre, ela será descartada, garante o presidente.
Bebianno está sendo fritado desde que resolveu bater de frente com Onix Lorenzoni, da Casa Civil. O secretário-geral do Planalto tomou partido em defesa de Paulo Guedes, ministro da Economia, no primeiro entrevero no governo. Lorenzoni tem o DEM, que comanda o Senado e a Câmara. Mas Bebianno tem o PSL. E por isso mesmo não vai se demitir. Se sair, a exoneração não será ‘ pedido’, mas por ordem expressa do presidente.
Os generais que estão dentro do governo – e mesmo aqueles que, do lado de fora, dão pitacos em grupos reservados do WhatsApp -, alertam que o Planalto não é a ‘casa da família Bolsonaro’. Em outras palavras: o presidente não pode levar para a administração pública o calor da disputa de um filho com um de seus ministros. Essa mensagem foi levada ao vice Hamilton Mourão.
Como coordenador-geral da campanha presidencial, Bebianno fez muitos acordos. E tem muita bala na agulha. Se sair, pode usar sua artilharia. E cair atirando. Para evitar que as balas atinjam o governo em cheio é que os generais decidiram entrar em ação. O ideal, segundo um desses militares com muitas estrelas nos ombros, é que Bolsonaro mantenha na política a dieta do hospital. Mesmo porque, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.