Passada a euforia dos primeiros cinco meses desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, os generais que avalizaram a candidatura do capitão começam a mostrar ao comandante-em-chefe das Forças Armadas os rumos que o Brasil deve seguir para entrar nos trilhos. Acabou a fase de viajar aos Estados Unidos para afagos e receber prêmios de Homem do Ano. Como também foi deixada de lado uma eventual aliança para intervir na Venezuela e derrubar Nicolás Maduro, como deseja o Pentágono.
A fase agora é de ação. De vender lá fora o que o Brasil produz de bom, comprar de parceiros comerciais o minimo que necessitamos e atrair o maior número possível de investimentos. Os generais Hamilton Mourão (vice-presidente da República) e Santos Cruz (ministro-chefe da Secretaria de Governo) estão encarregados dessa missão. A costura cabe ao também general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional.
A mudança de estilo, antecedida de um esparadrapo nas bocas do guru Olavo de Carvalho e de Flávio, Eduardo e Carlos, herdeiros políticos de Bolsonaro, começa a mostrar resultados. O clima com os árabes, que chegou a ser hostil com a intempestiva (e suspensa) anunciada transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, é mais animador. E os chineses, maiores investidores no Brasil há mais de uma década, resolveram abrir os olhos e ajudar de novo o Gigante Adormecido a acordar.
A reaproximação com o Oriente e a Ásia foi atribuída a Hamilton Mourão. Com a missão do vice coroada de sucesso, foi a vez de Santos Cruz viajar à França, onde apresentou a grandes empresas europeias, em seminário realizado em Paris, as potencialidades e garantias que o Brasil oferece para quem busca uma nova rota de desenvolvimento global. Na capital francesa, Santos Cruz foi aplaudido quando expôs o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), que inclui rodovias, ferrovias e aeroportos. E uma gama de vantagens para quem despejar euros nos setores primário, secundário e terciário da economia.
Da Europa, a avaliação é que cheguem ao longo dos próximos quatro anos investimentos estimados em 80 bilhões de euros. Dos árabes, virão bilhões de petrodólares em troca de frango, ovos, carne bovina, grãos, minérios e, quem sabe, até água. Da China, nem se fala. A expectativa é de que a balança comercial gire a nosso favor, só em 2019, em 40 bilhões de dólares.
Os militares são estrategistas. Traçam planos para a guerra e para a paz. E estão sempre juntos, trocando ideias, considerando pontos de vista individuais em busca de um consenso. Os generais que ocupam gabinetes no Palácio do Planalto costumam fazer uma ‘terapia mental’ em cavalgadas no QG do Exército em Brasília. Generais que estão fora do governo, e outros que, com broche de parlamentar na lapela apoiam Bolsonaro no Congresso Nacional, também marcam presença nessas cavalgadas.
Um deles é o general Paulo Chagas, tido pelos colegas como um herói pela coragem de, sem qualquer estrutura partidária, disputar o Palácio do Buriti. Não venceu, é verdade, porque o dinheiro do adversário falou mais alto. Mas ficou como um privilegiado espectador do cenário político, principalmente no que se passa no entorno da Praça dos Três Poderes.
Paulo Chagas respeita e é respeitado pelos generais que estão dentro e fora do Planalto. Costuma manifestar opiniões aplaudidas por seus pares. Não aceita que seja comparado a uma espécie de porta-voz do grupo. Mas quase tudo o que ele diz, tem aval imediato.
Na madrugada desta quinta, 6, por exemplo, o general, que costuma usar as redes sociais para expor seus pensamentos, deu uma demonstração de equilíbrio. “Uniformidade de pensamento e de atitudes, traduzida em rígida disciplina intelectual na execução do planejamento, em todos os níveis, aí incluído o do próprio Presidente da República, garantirá a conquista dos objetivos estabelecidos com o mínimo de desgaste e no menor tempo, caracterizando a união de todos em torno dos ideais que motivaram os eleitores a votar naquelas propostas”, escreveu, numa referência ao plano de governo de Bolsonaro revelado ainda durante a campanha eleitoral.
Paulo Chagas ponderou, porém, que “prioridades bem justificadas no plano ajudarão a identificar o que é essencial e o que pode tornar-se supérfluo diante dos obstáculos e da dinâmica das circunstâncias”.
Mas, como todo militar que se preza, ele deixou um aviso: “O acompanhamento cerrado do comportamento e das intenções da oposição e dos aliados de oportunidade, bem como a atualização periódica do planejamento e da orientação à base parlamentar, permitirão antecipação às reações e a salvaguarda dos fundamentos do plano e do apoio popular”.
Sexta-feira, logo cedo, é dia de cavalgada no QG do Exército. E já há seguidores de Paulo Chagas – são milhares deles nas redes sociais – na expectativa de ler o que for postado quando o Sol se puser.