A baiana Gildiane, assim que bateu os olhos sobre o paraibano James, soube que se envolveriam de alguma forma. Não necessariamente se casariam, mas a cama era destino certo. E foi o que aconteceu quase dois meses após aquele primeiro encontro, lá pelos clandestinos idos de 1974, em Salvador.
Debaixo dos lençóis, o casal percebeu que até poderia levar a vida separado. No entanto, os dois quiseram meter a cabeça e o coração naquele relacionamento. É verdade que, vez ou outra, aconteceram alguns entreveros, mas nada que fizesse a mulher e o homem desistirem de continuar juntos.
E foi o que fizeram até que, após exatos 50 anos do primeiro olhar, Gildiane, fragilizada e cheia de dores por conta de um câncer descoberto tardiamente, sucumbiu.
Desolado pela perda, James ficou sem saber o que fazer com os anos que ainda precisaria enfrentar sozinho. Depois de tanto tempo ao lado da amada, se sentiu tão frágil, que até para amarrar o cadarço do sapato precisava da ajuda da filha, Marisa. Esta, por sinal, apesar das feições parecidas com o pai, possuía o gênio da falecida.
Marisa acompanhou o martírio da mãe nos poucos meses de tratamento paliativo. Agora, para que a situação não degringolasse de vez, estava ciente de que o pai precisava de atenção redobrada. E foi o que fez. No entanto, mesmo as rochas sofrem com a tempestade e, não tardou, a mulher foi fazer terapia.
— Mamãe faleceu há um ano. Desde então, cuido do meu pai.
— Marisa, a morte é dura.
— Morrer é fácil, doutora. O problema é o que vem antes e a bagunça que fica depois.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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