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Gilmar diz que militar não é miliciano de Bolsonaro

As Forças Armadas estão enfrentando um desgaste junto à sociedade em razão da cada vez maior aproximação dos militares com o presidente Jair Bolsonaro.  A opinião é do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Segundo ele, integrantes da caserna, preocupados com seu papel institucional, já percebem o fenômeno e começam a fazer uma autocrítica interna.

As considerações do ministro foram feitas em entrevista à Deutsche Welle, agência de notícias alemã. Gilmar disse considerar possível que militares do Alto Comando venham a público afirmar seu distanciamento do governo. “Saíram pesquisas que indicam que está havendo uma identificação entre as Forças Armadas e o governo Bolsonaro, em tom negativo. Acho que isso vai se perceber. No caso da Saúde, está sendo altamente desgastante”, disse.

“Tenho dito que as Forças Armadas não são milícias do presidente da República, nem de força política que o apoie”, afirmou Gilmar Mendes. Ele revelou que esteve há alguns dias com o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, para “abrir um canal de conversa” para evitar que ‘com a corda esticada cada vez mais’, ela se rompa e abra uma crise institucional entre os poderes da República.

Na mesma entrevista Gilmar Mendes colocou em dúvida a autoridade do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, para falar em nome dos militares. Na última sexta-feira, Bolsonaro divulgou uma nota, também assinada por Azevedo e pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmando que as Forças Armadas “não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos” – há ações sob análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação da chapa eleita em 2018 e diversos pedidos de impeachment do presidente foram apresentados à Câmara.

“O que há de impróprio nessa nota é invocar as Forças Armadas, cujos comandantes não têm falado, e quando sugerem alguma ação, não é nesse sentido. […] A mim parece que aqui há uma impropriedade quando dizem que as Forças Armadas não farão nenhuma intervenção, mas, ao mesmo tempo, eles falam em nome das Forças Armadas. Com que autoridade? […] Muitas das interpretações que foram dadas pelo Ministério da Defesa não parecem que são subscritas pelas Forças Armadas”, diz.

Questionado se as instituições brasileiras atravessam uma fase de degradação, Mendes afirma que elas estão funcionando normalmente, ainda que sob “estresse” inédito desde a Constituição de 1988. “O governo tem dificuldade de dialogar, não só conosco, mas com o próprio Congresso Nacional. E gostaria que as coisas funcionassem a partir de uma certa atemorização. Mas isso não funciona”, afirma.

Segundo Mendes, o presidente do STF, Dias Toffoli, tentou construir um diálogo amistoso com o governo desde o final de 2018 para evitar “rusgas” entre Executivo e Judiciário, mas percebeu a necessidade de ser mais enfático após o ataque com fogos de artifício realizado por apoiadores de Bolsonaro contra o prédio do Supremo no último sábado.

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