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Gilmar ressuscita Covid e deixa Bolsonaro e Pazuello em maus lençóis

O ministro do STF Gilmar Mendes decidiu rever ações de Jair Bolsonaro durante a pandemia. A seu pedido, a Procuradoria-Geral da República terá de reavaliar denúncias de supostos crimes cometidos pelo ex-presidente e pelo ex-ministro e hoje deputado federal Eduardo Pazuello na condução do longo surto de Covid 19. Os dois e mais quatro pessoas foram considerados culpados pela CPMI e inocentados pela Justiça Federal do Distrito Federal. Com a determinação de Gilmar Mendes, a PGR terá agora de analisar o caso com base no relatório elaborado pela Polícia Federal. Os deboches dos mortos pela infecção decorrente da “gripezinha” ficarão por conta de Deus, usado em vão por quatro anos.

Pesa contra os acusados de má gestão na pandemia uma série de crimes, entre eles o incentivo ao uso de remédios sem eficácia, prevaricação, charlatanismo, falsa comunicação, falsificação de documentos particulares, incitação ao crime, emprego irregular de verbas públicas e o atraso na compra de vacinas. De acordo com os senadores da CPMI, tudo isso teria contribuído para a morte de milhares de pessoas. E nada do que foi exposto pelos integrantes da comissão foi invenção. Como faz até hoje, o próprio mandatário da época se esmerou na produção de provas contra si mesmo. É um craque nos cruzamentos da esquerda para finalização da esquerda.

Exageros ou não, após seis meses de trabalho quase diário, o relatório da CPMI prevê até 78 anos de prisão para Jair Messias, tido e havido como o principal responsável pela maior tragédia sanitária da história brasileira. Além de sinalizar que a conta contra Bolsonaro ainda está longe de ser fechada, a decisão do ministro da Suprema Corte mostra que, apesar das fanfarronices do bolsonarismo, ainda há juízes no Brasil, como havia em Berlim e na história do moleiro de Sans-Souci. Os fatos são claros e não há argumentos plausíveis que possam amenizar os crimes imputados aos citados no documento enviado pelo Senado à PGR. Todos agiram irresponsavelmente durante a pandemia que matou quase 700 mil brasileiros.

Nada justifica a insanidade, o besteirol, a falta de providências, as falas absurdas, o negacionismo e, sobretudo, os indicativos de que não usaria de bom grado um único dos dez dedos das mãos – como não fez – para amenizar o sofrimento e a dor dos infectados pela Covid, tampouco de seus familiares. Pelo contrário. Disse para o Brasil e para o mundo que não era coveiro. Como respeitar e deixar impune um cidadão que nega sua própria raça, que levou o país à irreversível condição de segundo lugar no ranking de mortes, com quase 700 mil óbitos, e que permanece contra a vacina, reafirmando que cloroquina e ivermectina são os melhores remédios para combater o vírus.

Seria o caso de camisa de força, seguida de internação psiquiátrica, não tivéssemos a certeza de que ele e os seus não se abstiveram da picada. Reconhecidamente esse povo tem instinto animalesco, mas não é burro. Certamente tomaram todas as picadas necessárias para que se mantivessem vivos. Além de lamentar, o que se há de fazer? Junto de Bolsonaro e de Pazuello, estão merecidamente encalacrados o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, a Capitã Cloroquina Mayra Pinheiro, o jornalista Fábio Wajngarten, ex-porta-vos da Presidência da República, e o médico Mauro Ribeiro, ex-presidente do Conselho Federal de Medicina. Todos estão se obrando com medo dos fantasmas da Covid.

Voltando ao ministro Gilmar Mendes, alguns brasileiros têm restrições à forma de agir e julgar do magistrado. No entanto, é injusto negar que desarquivar a ação contra Bolsonaro é uma decisão corajosa e pra lá de acertada. A ordem é acabar com o carrapato antes que, com seu sex appeal ultrapassado e cheio de gumex gel, ele nos carrapateie. Em outras palavras, não importa o nome que está na capa do processo. Importante é cumprir a lei. E, se depender do ministro Gilmar, ela será feita. Por isso, a afirmação de que ainda há juízes no Brasil. Assim como havia em Berlim, no Conto do moleiro de Sans-Souci, de François Andrieux. A história de um senhor que “peitou” Frederico II, rei da Prússia, atual Alemanha, déspota esclarecido que queria construir um novo palácio justamente no local onde o moleiro tinha um moinho. Indagado sobre a razão da resistência a uma figura real, o senhor respondeu: “Ainda temos juízes em Berlim”. Ou seja, foste rei, mas perdeu a majestade diante da arrogância, da tirania e da truculência. Agora é um detestado súdito.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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