O craque
Gilvan Pastor, jogador ferrenho em campo, homem dócil na praia
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emGilvan Pastor. Para quem viveu as décadas de 60 e 70 e amava futebol, o nome ainda ressoa como sinônimos de força, garra e talento. Um zagueiro que desafiou as convenções da época, jogando não apenas para defender, mas para marcar gols — com a cabeça ou com a precisão cirúrgica de suas cobranças de faltas.
Nas tardes ensolaradas de domingo, os estádios se transformavam em palco. E Gilvan, com seu 1,90m, era a estrela. A torcida vibrava não apenas pela sua habilidade de desarmar os adversários, mas pelo espírito aguerrido que carregava em cada disputa de bola. Quando subia para cabecear, parecia desafiar a lei da gravidade. Era como se o tempo parasse, os olhares fixos nele, até que a bola beijasse a rede e o estádio explodisse em comemoração.
Gilvan não era apenas um jogador; era um símbolo. Um zagueiro que avançou em uma era que valorizou mais o recuo do que o ataque. Ele provou que era possível unir uma solidez defensiva à ousadia ofensiva. E como era admirado! Os meninos da época imitavam suas brincadeiras nos campos de terra batida, enquanto os narradores de rádio o apelidavam de “Gigante”.
Hoje, aos 85 anos, a rotina de Gilvan é outra. Não há mais a pressão de um clássico, mas há o conforto do convívio com a família nas praias do Nordeste. Após pendurar as chuteiras, foi atrás de outro sonho: tornou-se advogado. Trocaram-se os gramados pelos tribunais, mas a mesma retidão que o fez respeitado no futebol o transformou em um respeitado profissional do campo do Direito.
Gilvan gosta de caminhar na areia ao amanhecer, sentir o vento no rosto e ouvir o som das ondas. De vez em quando, é parado por alguém que o reconhece e pede para relembrar um dos seus feitos históricos. Ele sorri, modesto, mas os olhos brilham, como se as memórias ainda presentes fossem atuais.
Sua história é uma crônica de tempos heroicos, quando o futebol era puro, a paixão era genuína e os ídolos se eternizavam pelo que faziam em campo e fora dele. Gilvan Pastor, o zagueiro que marcou gols e fez história, hoje vive outra partida: a da vida bem-vivida. Uma partida onde a vitória é compartilhar momentos com quem ama e receber o carinho de quem nunca o esqueceu.