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Goiabeira de Damares fará de Brasília uma parreira infernal?

O tempo todo, somos completamente bombardeados por símbolos que se baseiam em arquétipos. Esses arquétipos só existem porque pretensos em eficácia na arte de nos ensinar algo ou em nos fazer sentir de uma maneira que diz nos ajudar a nos conhecermos melhor. (Será?!).

A verdade mesmo é que arquétipos não são estereótipos. Eles são somente a fundação para determinada representação, e não a representação completa.

Ninguém pode ser obrigado a se desumanizar; isso é algo que acontece enquanto as pessoas se entretêm e se escondem da vida, entregando-se a outrem, para que pense por nós, atropelando a capacidade de discernir entre a verdade, a meia-verdade e a falsidade.

O arquétipo da goiabeira é uma história que se tornou conhecida no cenário político recente, em Brasília. A história gerou polêmica e memes nas redes sociais, com críticas e piadas sobre a veracidade do relato da ex-ministra e atual senadora pelo Distrito Federal Damares Alves.

Ela surpreendeu. Atropelou Flávia (também ex-ministra) e riscou do mapa político o sobrenome Arruda, do ex-governador José Ro9berto, o mesmo que foi cassado e preso em 2010 na famosa operação Caixa de Pandora. Damares foi além, ao vencer também vertentes esquerdistas da capital, representadas professora Rosilene Côrrea. Na época, a congressista bolsonarista-raiz foi clara: a goiabeira tem um significado simbólico para ela.

O arquétipo da goiabeira é uma metáfora para a identidade nacional brasileira, que se constrói a partir da mistura de diferentes culturas e influências. A goiabeira é uma árvore originária da América do Sul, mas que se adapta a diversos climas e solos, produzindo frutos variados e saborosos.

Assim, a goiabeira representa a capacidade de resistir e se reinventar diante dos desafios históricos e sociais, mantendo uma essência própria e diversa. A árvore também simboliza a riqueza e a criatividade da cultura brasileira, que se expressa em diversas formas de arte, música, literatura, gastronomia e agora, política.

A questão maior é que o partido Republicanos quer lançar (já!) de imediato, a ex-ministra como candidata ao governo do Distrito Federal nas eleições de 2026. O plano do partido prevê Damares como cabeça de chapa e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) como candidata a uma das vagas ao Senado.

Para os caciques da legenda, o cenário de 2026 pode até não ser favorável (agora) a Damares – mas, como ela tem 8 anos de mandato, como senadora da República, se perder na disputa, poderá voltar tranquilamente para o senado e cumprir o restante do mandato ganho nas urnas candangas em 2022.

Mas essas mesmas raposas que tentam jogar Damares acima da árvore genealógica política brasiliense, parecem vendar os olhos para não enxergar que além do Republicanos, existem outros partidos – como MDB, PSD e a Federação do PT e seus satélites – que estão de olho na cadeira teoricamente ocupado até 2026 (se assim Xandão permitir) por Ibaneis Rocha, que após o 8 de janeiro virou um zumbi perambulando nas sombras de próceres emedebistas.

Outro ponto que os Republicanos querem é ressuscitar – no pé da goiabeira – o transe e a vertigem das fantasias da extrema direita enraizada pelo bolsonarismo que ainda insiste em dar plantão contra a democracia.

É essencial – para que possamos encarar a vertigem dos verdadeiros problemas de nosso tempo: a crise ambiental, o aumento da desigualdade, o déficit democrático e o desafio de uma transição para um outro regime energético, econômico e político – deixar para trás esse atraso monumental bolsonarista que quase destruiu as instituições do país com um atentado terrorista à democracia, que abalou Brasília nos primeiros dias do governo Lula.

Damares Alves não é boba. Isso precisa ser dito. Tanto, que emprega no gabinete no Senado a esposa doe seu primeiro suplente, Manoel Arruda Júnior (União Brasil). Não se trata de um gesto de gratidão, mas o primeiro passo de uma aliança para consolidar o arquétipo da goiabeira e a identidade política da capital da República para as eleições de 2026.

A história política progressista e combatente do Distrito Federal com seus bastiões prudentes, não podem ficar sentados à beira da goiabeira e na estrada do Jardim do [Eden, esperando o milagre da democracia acontecer novamente. Se não levantarem suas armas agora, pode ser que a Inês esteja morta, envenenada pelo extremismo e sob a poeira da democracia candanga – tão calejada e combalida nessas últimas décadas.

*Manly Spike é o espigão viril do jornalismo internacional e especialista em política brasileira desde os tempos do império português que se instalou nas terras do Pau Brasil.

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