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Os estelionatários

Golpes com cheques ficam cada vez mais sofisticados

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Felipe Resk e Isabela Palhares

Com o uso em queda nos últimos anos, os cheques têm sido alvo de golpes requintados em São Paulo. Especialistas em reproduzir “assinaturas perfeitas” e até sequestro de celular são alguns dos recursos usados por quadrilhas para lesar as vítimas, sem precisar enganá-las para obter informações e praticar o crime. A sofisticação dos bandidos, porém, também convive com estelionatos “clássicos”.

Dias após usar um cheque, a administradora de empresas Patrícia Andreolli, de 42 anos, percebeu um débito de R$ 2.450 na sua conta bancária. “Era de um cheque que eu nunca tinha dado”, afirma. O valor, diz, era exatamente o que tinha na conta.

Patrícia conta que o cheque clonado era “perfeito”. “Até a assinatura, diria que fui eu que fiz”, diz. O dinheiro foi ressarcido pelo banco, mas o caso a fez se sentir insegura. “Houve acesso ao meu RG, CPF. Meu medo era que usassem os dados para outros golpes.”

O técnico de telecomunicação Erick Pondiolli, de 41 anos, também teve o cheque clonado depois de realizar um depósito. “Eu mesmo pus o cheque no caixa eletrônico para a minha própria conta”, diz. O verdadeiro tinha o final 52. O falso, 55. “Essa folha nunca foi usada. Tenho o original na carteira até hoje.” O valor era de R$ 4,9 mil e foi restituído pelo banco.

Em março, uma operação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), órgão da Polícia Civil que apura crimes contra o patrimônio e a fé pública, prendeu nove integrantes de uma quadrilha de falsificação de cheque. Outros seis estão foragidos até hoje.

Segundo as investigações, os bandidos escolhiam os alvos com base em fichas cadastrais de banco – um indicativo de que tinham informantes dentro de agências. O esquema conseguia movimentar até R$ 600 mil por mês e tinha, entre as vítimas, juízes, promotores e delegados.

Para o golpe, a quadrilha se valia de um especialista em falsificar assinatura, conhecido entre os investigadores como “o artista”. Os criminosos também “sequestravam” a linha telefônica da vítima. Quando o banco ligava, era o bandido quem autorizava a transação.

Vulnerabilidade – “O avanço da tecnologia abriu novas frentes de trabalho para as quadrilhas”, afirma o coronel José Vicente Filho, especialista em segurança pública. “Os bandidos também procuram a vulnerabilidade da vítima, então se valem de pessoas que não sabem lidar com e-mail ou aplicativos, principalmente idosos.”

Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que os bancos investem cerca de R$ 2 bilhões ao ano em sistemas e ferramentas de segurança da informação. “Diversos golpes, porém, usam de artimanhas de engenharia social, ou seja, técnicas de persuasão”, diz.

Segundo a Polícia Civil, um desses golpes envolve estelionatários que ligam para vítimas se passando por funcionários do setor de segurança dos bancos. Após obter informações, como o número de série do cheque, conseguem praticar o crime.

Queda – Dados da Serasa Experian indicam que o número total de cheques compensados em São Paulo caiu cerca de 81,2%, na comparação entre os anos de 2001 e 2016. Apesar do recuo, a ordem de pagamento ainda é bastante usada, em especial como forma de garantia em transações comerciais.

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