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Golpe das joias e militares fieis garantem a Lula governo de paz

Além de contribuir para a morte de 700 mil pessoas por covid, colapsar o país econômica e politicamente e articular um golpe na democracia, o que Jair Messias fez de melhor foi enlamear internamente a imagem das Forças Armadas. Externamente, afastou o Brasil das principais mesas de reuniões mundiais. Antes de efetivamente concluir suas tarefas como mandatário de uma República que ele quase transformou em republiqueta, ainda “envolveu” sete militares no escandaloso caso das joias árabes, entre eles um almirante de esquadra, um contra-almirante e um tenente da Marinha e um tenente-coronel do Exército. Nas frustradas tentativas de resgatar o tesouro das arábias, utilizou outros militares de patentes medianas e um avião da Aeronáutica. Ou seja, emporcalhou de vez os três respeitadíssimos eixos das Forças Armadas.

Nada de anormal para quem passou sete mandatos como deputado federal xingando adversários, ameaçando mulheres, culpando a imprensa e enaltecendo a figura de um conhecido torturador. Chefe do Doi-Codi, divisão de repressão e inteligência da ditadura, o falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar do regime condenado pelo crime de tortura. Mesmo com essa biografia de Freddy Krueger, Ustra sempre foi avaliado pelo mito como herói nacional. Tem maluco para tudo. São pessoas para as quais a liberdade nada representa. Aliás, sendo justo, a grande obra de Bolsonaro foi recuperar, após 20 anos, a ordem do dia em “comemoração” ao golpe de 1964. Comemorou, fugiu e se finou. Agora sim, em nome de Deus.

Os fantasmas que rondavam o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios viraram pó. Há cerca de duas semanas, o Comando do Exército anunciou que este ano não haverá a leitura da aberração alusiva ao dia 31 de março, aniversário do golpe. Apesar dos meus princípios liberais e do prazer pelo rótulo de civil, tenho obrigação de parabenizar o general Tomás Paiva, novo comandante da Força, cuja interpretação é a de que a mensagem ufanista e exageradamente patriota nunca deveria ter existido. Antes tarde do que nunca. Não importa que a decisão tenha sido um aceno ao governo de Luiz Inácio, um rompimento definitivo com Jair Messias ou um reposicionamento da caserna em relação à democracia.

Importante é que ela ocorreu, embora fosse esperada há quase seis décadas. Já são 59 anos do golpe que ceifou a liberdade dos brasileiros. Muito mais do que insistir com um gesto hostil à maioria esmagadora da sociedade, manter a mensagem autoelogiosa seria uma grosseria com o presidente eleito democraticamente e uma ofensa àqueles que, apesar da intolerância à tirania, jamais deixaram de respeitar os militares, seus comandantes e a instituição que representam. Considerando que, na vida, erra quem não sabe lidar com seus fracassos, nota mil para o general. A torcida agora é para que os comandantes da Marinha e da Aeronáutica sigam o exemplo.

Em um momento crucial para que as Forças Armadas retomem a confiança da sociedade e contribuam para a pacificação do país, não há mais espaço para lembranças enaltecedoras da ditadura, tampouco mentiras sobre as evidentes diabruras contra adversários. A ideia é que tenhamos uma República nova na alma e no coração. Não sei se a decisão do general Tomás Paiva é unilateral. Melhor que tenha recebido apoio da cúpula do Exército, cujos representantes não precisam votar, gostar ou andar de mãos dadas com Lula da Silva.

No entanto, todos têm a obrigação de respeitar e obedecer o presidente da República, constitucionalmente o comandante supremo da Forças Armadas. Quanto ao levante de 64, vale lembrar que as primeiras movimentações militares começaram na madrugada do dia 31 de março, mas o regime foi efetivado somente no dia 1º. de abril, isto é, o dia da mentira. Infelizmente, o golpe quase virou nova verdade em 8 de janeiro.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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