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Gonorreia volta com força e assusta a área de saúde

Jamil Chade e Fabiana Cambricoli

A queda no uso de preservativos, incluindo a prática de sexo oral, está ajudando a disseminar uma superbactéria da gonorreia e a torná-la cada vez mais difícil de tratar. Em algumas situações, a cura foi considerada “impossível”. O alerta foi lançado ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS), depois de constatar que a infecção sexualmente transmissível – responsável pela infertilidade – está rapidamente desenvolvendo uma forte resistência aos antibióticos.

Se não bastasse, a indústria farmacêutica investiu pouco nos últimos anos no combate a essa doença e, portanto, os novos remédios que chegam ao mercado são escassos. Para um dos produtos tradicionalmente usados, o ciproflaxacin, a resistência foi registrada em 97% dos países avaliados pela OMS. Hoje, apenas um remédio é considerado eficiente, o ESC.

Cerca de 78 milhões de pessoas são contaminadas a cada ano. Em levantamento realizado em 77 países, a entidade constatou que a resistência é “generalizada”. A OMS não divulgou a lista de nações avaliadas. Ao Estado, o Ministério da Saúde informou que estima 500 mil infectados todos os anos no Brasil. A pasta diz, porém, ainda não registrar gonorreia super-resistente no País.

Em ao menos três casos, a OMS alerta que a gonorreia não teve cura: na Espanha, na França e no Japão. “Trata-se de uma bactéria muito inteligente e, cada vez que um novo antibiótico é introduzido, ela se torna mais resistente”, afirmou Teodora Wi, responsável da agência das ONU para a saúde.

Em 15 anos, a comunidade médica já foi obrigada a mudar de tratamento três vezes diante da ineficiência de produtos e da resistência desenvolvida.

Sinal amarelo – O que mais deixa a OMS em alerta é o fato de a maioria das infecções ser em países pobres, onde estudos sobre a resistência são mais escassos e o monitoramento, frágil.

Se a infecção pode afetar partes genitais e até elevar o risco de HIV, é o impacto na garganta que mais preocupa em relação à capacidade da doença em sofrer mutação. A resistência a remédios seria ainda maior pela mistura que a bactéria identificaria com o tratamento contra infecção regular da garganta.

A doença ainda teria se espalhado com maior facilidade diante da queda no uso de preservativos. O fato de seus sintomas – secreção amarelada e esverdeada nos órgãos genitais – serem desconhecidos para parte da população também estaria levando a doença a se desenvolver sem terapia adequada. A OMS apela para que governos monitorem a proliferação da resistência da doença e invistam em novos remédios. Mas, para a entidade, só uma vacina pode frear de vez esse avanço.

O Ministério da Saúde disse que distribuiu 161 milhões de camisinhas masculinas e 1,8 milhão de preservativos femininos só neste ano.

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