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‘Gordinha’ vira beata e ataca roupas transparentes

Adalgisa não estava bem naqueles dias. Não que tivesse acontecido algo tão grave assim. Isto é, grave até que era, mas que não se pode afirmar que iria causar mudanças radicais na vida da mulher. Afinal, tratava-se da mudança repentina dos 38 para os 42. Não na idade, já que ela ainda não havia chegado aos 30.

O problema de Adalgisa era com o manequim. Por conta de algumas coxinhas, além, é óbvio, de um ou outro bombom sorrateiramente escondido em sua bolsa, aquela calça jeans parecia permanentemente aposentada bem lá no fundo da gaveta.

Para a mulher, o problema eram os quadris, que pareciam ter alargado mais do que o esperado. O marido, apesar de não ter notado a diferença, parecia apreciar, já que sempre dava um jeito de se aproximar por trás e beijar o cangote da amada.

– Para com isso, Elias!

– Por quê? Não gosta mais?

– Tô gorda!

Tentando esconder suas curvas, Adalgisa passou a usar vestidos cada vez mais largos. Praia? Nunca mais! Ela não tinha coragem nem de colocar um biquíni, tamanho o incômodo que sentia apenas de olhar seu reflexo no espelho mesmo a portas trancadas.

Outro hábito que foi deixado de lado foi fazer amor à luz do dia. Não mesmo! No máximo à noite e, mesmo assim, no mais completo breu. Elias, que era um completo devoto da mulher, teve que desenvolver olhos de gato para encontrar o caminho das pedras. E, entre uma topada aqui e outra ali, parece que se saiu bem ou, então, Adalgisa não quis colocar mais lenha na fogueira.

Dos vestidos até o tornozelo, foi um pulo buscar conforto na igreja. Fez amizade com algumas beatas e, a partir de então, passou a falar mal das mulheres que se cobriam com poucos panos. Onde já se viu tanta falta de compostura? Aquilo não era coisa de Deus. Não mesmo! Uma mulher precisa saber se comportar em público!

Pois bem, lá estava o casal fazendo compras no mercadinho da quadra. Elias empurrava o carrinho, enquanto Adalgisa, preocupada com as economias, fazia contas de cabeça para escolher o produto mais barato. O marido, entretido com o aparelho celular, não percebeu quando passou uma beldade de lá seus 25 anos, desfilando com uma blusinha de chamar a atenção.

– Você viu que pouca vergonha?

– Vi o quê?

– Aquela rapariga ali.

– E o que tem a moça, meu amor?

– Moça? Que moça? É uma despudorada! Desfilando pelada por aí.

– Pelada? Ela está vestida.

– Elias, me poupe! Aquela blusinha transparente dá pra ver tudo e mais um tanto assim!

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