Sem culpa
Gorduras e carboidratos não precisam ser inimigos da dieta
Publicado
emJuliana Carreiro
Pesquisadores de todo mundo estão constantemente dedicando seus esforços a entender o que deveria ser excluído ou priorizado em uma suposta rotina alimentar perfeita. O estudo mais recente, publicado pela revista científica inglesa, The Lancet, concluiu que o consumo excessivo de carboidratos, como massas, pães, arroz e batata, é mais prejudicial para o nosso coração do que o consumo excessivo de gordura, que pode ter origem animal, como aquela aparente nas carnes e na manteiga; vegetal, como a do azeite de oliva, a do abacate e as oleaginosas; e origem industrial, como a gordura trans, presente nos produtos alimentícios ultraprocessados.
Na internet você encontra todos os detalhes da pesquisa, feita em mais de dezoito países, com 135 mil pessoas. A rede também já está cheia de comentários de profissionais de saúde e órgãos representativos com pontos favoráveis e principalmente discordantes de seus resultados. O meu foco aqui será alertar para os perigos de se tomar decisões radicais baseadas neste tipo de notícia, de se ‘automedicar’ também quando o assunto é nutrição. Nem a restrição total do carboidrato é favorável para a nossa saúde, nem o aumento do consumo de gordura. Da mesma forma que a restrição total da gordura também pode trazer efeitos negativos, assim como o aumento do consumo de carboidratos. O segredo está em entender quem são estes macronutrientes para optar por aqueles que fazem o nosso organismo funcionar melhor.
Temos no Brasil inúmeras fontes de carboidratos, como a farinha de trigo e todos os alimentos feitos com ela e o arroz branco, que são as mais populares por aqui. Mas temos também o arroz integral, as raízes, como a batata doce, o inhame, o cará e a mandioca, e o milho com suas derivações, que são menos consumidos. Os representantes do primeiro grupo têm um índice glicêmico alto, ou seja, liberam mais glicose, que leva a um pico de insulina no sangue, que por sua vez pode gerar resistência à insulina, com um consequente aumento de peso. Quase todos eles são feitos de trigo, cuja principal proteína é o glúten, uma substância de difícil digestão, que costuma gerar processos inflamatórios, responsáveis por diversos dos nossos problemas de saúde, entre eles o sobrepeso.
O grande problema desta proteína é a forma excessiva com que ela é consumida pelos brasileiros. Logo pela manhã aparece em forma de pães, torradas e bolos. No lanche do intervalo e nas lancheiras dos pequenos vira uma bolacha salgada, um biscoito recheado, um bolinho, uma bisnaguinha… no almoço, aparece nos mais variados tipos de massa, em tortas, quiches, pães de hambúrguer… de tarde lá está ele dando vida a um salgado, a uma coxinha, a uma rosca de padaria e de noite chega como uma apetitosa pizza, como rápidas esfihas, lasanhas congeladas, macarrão instantâneo, pão de cachorro quente ou de forma.
Para aqueles que gostam de dizer: “no passado todo mundo comia trigo e está todo mundo vivo” é bom lembrar que antigamente o trigo consumido era outro, tinha uma composição diferente, com menos glúten e mais nutrientes e ainda assim, estava presente em apenas uma ou duas refeições do dia. No início da década de setenta, o grão foi geneticamente modificado para ser mais produtivo. Esta mudança fez com ele ficasse com um grande potencial inflamatório. Portanto, o excesso destes tipos de carboidratos certamente fará mal para a saúde como um todo, não só para o coração.
Já suas outras fontes podem substituir as opções refinadas, nos trazendo mais fibras, mais nutrientes e menos açúcar, ou seja, com um índice glicêmico menor, que nos garante mais saciedade e uma melhor utilização da energia ao longo do dia. Estas opções são importantes para preservar o equilíbrio da nossa alimentação, pois, como eu já disse neste blog, a restrição total de carboidratos, pode aparecer como uma boa opção para quem emagrecer, mas a médio e longo prazos trará reflexos negativos no nosso funcionamento geral e até a volta do quilinhos perdidos.
Com as fontes de gordura o raciocínio é o mesmo, não se deve restringi-las de forma radical, nem aumentar demais o seu consumo, é necessário apenas fazer as escolhas certas. As mais consumidas por aqui também são as menos favoráveis ao organismo, como a gordura trans, muito utilizada pela indústria alimentícia, que deveria ser banida das nossas vidas; a margarina, que é uma opção mais barata e de qualidade muito inferior à da manteiga, e as de origem animal, principalmente as de carne bovina e os queijos. Por outro lado, o abacate, que deveria ser valorizado por ser uma ótima fonte de gordura boa, costuma ser injustamente deixado de lado, por ter uma fama de fruta muito calórica. Como ele, o azeite de oliva e as oleaginosas são ótimas fontes de gordura saudável como o Ômega 9 e o Ômega 3, importantíssimo para o nosso organismo (recentemente fiz um post sobre ele). Cortar todas as fontes de gordura pode empobrecer o organismo, acabar com o nosso sistema imunológico, causar alterações hormonais, principalmente nas mulheres e enfraquecer os nossos músculos.
Estes dois grupos alimentares podem trabalhar juntos em nosso benefício, a combinação entre eles, e entre todos os grupos alimentares é importante para oferecer os nutrientes necessários para as nossas funções físicas, mentais e emocionais. Portanto, como eu já disse outras vezes e como devemos ter em tudo na vida, que prevaleçam sempre o bom senso e o equilíbrio. Amém.