Quando oito famílias de uma área rural de Planaltina pediram ajuda à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) para superar a falta de água no terreno de pouco mais de 20 hectares, no início dos anos 2000, a escassez que comprometia a produção só tendia a piorar. Técnicas de uso sustentável da água e de tratamento do solo começaram a ser implementadas e transformaram a realidade daqueles agricultores.
Mais de dez anos se passaram e a chácara 90 do Núcleo Rural Rio Preto virou referência para outros produtores, estudiosos, autoridades e técnicos do segmento agropecuário. Nesta terça-feira (17), um grupo deles esteve no terreno em Planaltina participando do Dia de Campo, evento promovido pela Emater para apresentar as iniciativas e tecnologias desenvolvidas atualmente pelo governo do DF.
Todas serão colocadas em prática no Plano de Manejo e Conservação da Água e do Solo, que deverá ser lançado em abril e contará com três linhas de ação: o manejo e a conservação da água e do solo; a adequação ambiental das propriedades; e o uso sustentável da água.
Apesar de o governo prever uma situação confortável nos próximos dois anos em relação ao abastecimento hídrico no DF, especialistas defendem a elaboração de ações preventivas. “Nunca imaginamos que São Paulo e Belo Horizonte estariam na situação em que se encontram hoje. Por isso, estamos nos antecipando”, afirmou o presidente da Emater-DF, Argileu Martins.
Durante o evento desta terça, técnicos da Emater e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentaram temas como recuperação do sistema de distribuição de água (canal de irrigação); reservatório revestido; sistema de irrigação por gotejamento e cultivo protegido; práticas de conservação da água e do solo; e redução de perdas na colheita de hortaliças.
O secretário de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, José Guilherme Leal, afirmou que as ações concretizadas na propriedade de Planaltina mostram claramente que a agricultura bem feita é parte da solução da disponibilização dos recursos hídricos. “Vemos que é possível manter uma produção de qualidade e, ao mesmo tempo, preservar a água e o solo. Quando há uma sinergia entre os órgãos, as coisas ocorrem com mais facilidade.”
Estudo apresentado durante as palestras mostrou que são necessários, por exemplo, de 500 a mil litros de água para a produção de um quilo de vagem e de 150 a 250 litros para a mesma quantidade de batata. Esse volume de água é significativamente reduzido de acordo com a forma de irrigação, que pode ser por aspersão — lançamento de jatos de água na plantação — ou por gotejamento — irrigação localizada que gera uma economia de quase 50%. Por hectare, por exemplo, são gastos 93 mil litros por dia com o primeiro método. Essa quantidade cai para 51 mil litros diários com a técnica de gotejamento.
O Plano de Manejo e Conservação da Água e do Solo é uma iniciativa da Emater, do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito Federal – Brasília Ambiental (Ibram), da Agência Reguladora de Águas e Saneamento do DF (Adasa) e das secretarias de Meio Ambiente e de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.