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Rufiões da política

Governo do Centrão, como de praxe, quer chegar ao paraíso

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Mathuzalém Junior* - Foto Fábio Rodrigues Pozzebom

Cúmulo da ignorância, da intolerância e da incapacidade de gerir uma nação continental e diversa, as atitudes do presidente da República Federativa do Brasil mostram bem a quem estamos entregues. Para o mandatário, o país tinha de ser habitado por marionetes esganiçadas, daquelas que gritam ridiculamente após qualquer baboseira dita pelo ídolo de barro. Para o próprio e para seus simpatizantes, ser contra um mito e seus malfeitos é assinar uma condenação sem julgamento. Enquanto isso, o Brasil parece aquela indústria de fundo de quintal que produz em série churrasqueiras de último tipo, mas de plástico. É o governo do capitão comandado pelo Centrão, cujos líderes não conseguem se imaginar longe do poder.

Com remotas chances de prosperar, a baboseira da vez é uma tal emenda constitucional que garantiria cadeiras vitalícias no Senado a ex-presidentes da República. E, claro, não poderia faltar a imunidade. Ainda não ouvi falar oficialmente desse frankenstein, mas, considerando o peso da coluna onde li (Elio Gaspari), a ideia realmente surgiu e, se depender das referências que temos do grupo, certamente será apresentada como futura moeda de troca. Indecente e absurda, mas normal para os conceitos fisiológicos do bloco, a proposta, embora tripla, é tão natural como uma criança de cinco anos pedir ao pai uma Lamborghini ou uma Ferrari zero quilômetro e personalizada. Ou seja, só no Brasil para se pensar algo dessa natureza.

Desprezado pelos iguais do G20 e abandonado pelos desiguais que esculhamba, o atual presidente da República seria o primeiro beneficiado. Simultaneamente, o mito ocuparia uma cadeira de senador ad eternum, os benfeitores do Centrão cumpririam (e muito bem) o papel preestabelecido de donos do cofre, sairiam com a certeza da proteção cumprida e ficariam livres para se esgueirar no primeiro candidato com chances de vencer as eleições de 2022. Tudo em nome da perpetuação do poder a qualquer custo. Projetos que beneficiem o povo, gerem empregos e acabem com a fome jamais farão parte da lista de prioridades dos rufiões da política. Sempre foi, é e será assim até que haja um cataclisma e o Brasil seja reabitado por políticos sérios e eleitores capazes.

Por enquanto, permanecemos como penetras na festa dos bolsominions e como eleitores benevolentes de um grupo simbolizado por raposas que envelhecem, mas não morrem. Ninguém consegue interditá-las. Duvido que essa PEC Mandrake vá adiante. Ela é a prova de que a política é a arte do possível, oportunista e onde tudo é passageiro, inclusive o povo que insiste em eleger parlamentares sabidamente preocupados unicamente com o próprio bolso. Exemplo disso foi uma outra recente proposição para proteger o atual mandatário. Passados alguns poucos meses e, após o país perder quase 610 mil contribuintes para a Covid-19, ninguém fala mais no tal do semipresidencialismo.

E por uma única razão: todos sabiam que era uma balela, que não passaria pelo crivo dos mais corretos. Bastaram três derrotas seguidas na Câmara e no Senado e o governo decidiu engavetar mais essa nefasta tese. É aquela velha história de que, assim como na política, tudo na vida passa. Entre um e outro presidente, a prática do Centrão é a mesma. Agem como compradores de empresas falidas, desde que, no fim da negociação, haja um bom carguinho. A máxima é quase divina: enquanto houver um filão de ouro, a ordem da liderança é amparar o dono do garimpo até o fim. É o governo do Centrão a dois passos do paraíso, seja quem for o eleito.

Mesmo que o deixem sangrar por algum tempo, só abandonam a escavação quando o barranco começa a desmoronar. Foi assim com José Sarney, Fernando Collor, Luiz Inácio, Dilma Rousseff e Michel Temer. São “amigos” em tempos sombrios. Jamais esquecem que o governo é fraco, mas é rico. Perdão pelo sincericídio, mas que joguem a primeira rosa aquele que tiver um único motivo para defender o mito das rapaduras e endeusar as lideranças do Centrão. Pelo amor de Deus, não vale o Lula ladrão.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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