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Lavanderias de dinheiro

Governo joga no vazio para travar porta arrombada para entrada da jogatina

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior& - Foto Antônio Cruz/ABr

Pode ser exagero – tomara que seja -, mas eu não conheço um amigo ou familiar que conheça um amigo de um amigo do amigo de um familiar que tenha ficado milionário com os jogos considerados de azar, incluindo as loterias e o jogo do bicho, um dos mais sérios, pois, como dizem os “banqueiros”, vale o que está escrito. Meu ceticismo é o mesmo em relação a todos em que o homem seja o operador do resultado oficial. Não tenho qualquer mecanismo que me ofereça, sem margem de erro, 100% de certeza de que os dispositivos à disposição dos “banqueiros”, sejam eles oficiais, oficiosos ou manipuláveis, são isentos, ou seja, de total confiança dos apostadores ou daqueles que bancam as apostas.

Por isso, ainda que saiba que muitos operam sob monopólio estatal e, por isso, não tenha argumentos para fechar contra governo, bicheiros e, agora, donos de bets, mantenho o princípio da dúvida permanente e decorrente de uma inapta incapacidade de compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. Essa dúvida em conexão com os duendes, bruxas, discos voadores, fadas, gnomos e gênios da garrafa. Sempre ouvi dizer que eles existem, mas nunca os vi, da mesma forma que jamais soube de alguém que os tenham visto. É a mesma coisa nos jogos. De vez em quando um o outro fica milionário. Eles não aparecem por conta do fundamento da segurança. Justo, mas injustificável do ponto de vista da dúvida.

Eis a razão pela qual prefiro acreditar somente no que é palpável para mim e para a maioria dos brasileiros. É óbvio que na porrinha, na cacheta, na sueca e no dominó, entre outros, também pode haver fraude. A diferença é que é tête-à-tête e todos os jogadores são capazes de descobrir os fraudadores. Pelo menos essas modalidades são materiais, concretas, corpóreas, tocáveis, perceptíveis e tangíveis. Alguém sabe de alguém que já tenha estourado os cofres de um cassino ou dos senhores das maquininhas caça-níqueis? Certamente que não. Alguém também sabe de algum político que tenha se manifestado contra as bets? Se os cassinos existissem para perder, os empresários do ramo estariam falidos. O mesmo ocorreria com os donos das máquinas que só engolem moedas.

É de conhecimento de algum cidadão comum a falência de qualquer uma das igrejas captadoras de dízimos, joias, imóveis ou automóveis de fiéis? Duvido! Numa rinha, o galo bom já beneficiou um ou mais apostadores? Obviamente que não. Só o galo marvado é que ganha. E o que dizer do “jogo do tigrinho”? Nada além de um sorvedouro de dinheiro alheio que opera por meio de algoritmo desconhecidos pelos jogadores e, portanto, são oficialmente lavanderias de dinheiro. Vejo coisas na TV que até Deus duvida. Imagina eu, um sujeito que nunca ganhou sequer o frango assado sorteado na quermesse da igreja do bairro. Não faz muito tempo, um senhor desconhecido do grande público apareceu no horário nobre de determinadas emissoras patrocinando programas e oferecendo prêmios de R$ 1 milhão, mais dezenas de carros, motos e uma casa todo mês cobrando a mixaria de 1 real 99 centavos por aposta. Não é crível.

O mesmo “empresário” diversificou os negócios e, agora, anuncia planos de saúde vinculados a cursos profissionalizantes pela bagatela de R$ 9,90. Ainda menos crível. Não à toa, a maioria dos times de futebol viraram “sócios” bets. Não é mera coincidência, os clubes serem usados para abarrotar os bolsos dos espertos. Que o digam Deolane Bezerra, talvez o sertanejo Gusttavo Lima e os tetracampeões Ronaldo Fenômeno e Rinaldo, embaixadores no Brasil da Betfair, a maior bolsa de apostas esportivas do mundo. Senhores apostadores, façam seus depósitos, fulanizem seus dados e, depois, tenham muita previdência, paciência, persistência, resistência, resiliência e, principalmente, abstinência ao dinheiro. Quando se cansarem de perder, não tentem recorrer, pois a providência divina não conseguirá reaver suas perdas.

Os participantes ativos de cada chute, cada gol, cada expulsão e de cada vitória dependem de uma sorte que não está ao alcance das mãos de Deus. Diante disso, causa-me espécie imaginar que o governo não soubesse há tempos de que as bets tinham por objetivo tirar o que fosse possível das famílias, inclusive o dinheiro da cesta básica. Conforme dados oficiais, somente em agosto foram enviados, via PIX, R$ 3 bilhões para sites e apps de apostas. A epidemia é fato consumado. O pseudo alerta governamental nessa altura do Brasileirão Betano é o mesmo que botar tranca depois da porta arrombada. Torçamos para que os abusos não sejam avaliados como uma nova gripezinha e controlados com medicamentos tão ineficazes como foram a Ivermectina, a Hidroxicloroquina e a Axitromicina. Que haja seriedade e regras claras na proteção à família brasileira.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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