Dízimo alto
Governo mistura verba de culto e consulado e dá mãozinha a Allan
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emNo dia 17 de junho último, quando viajou aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas em Los Angeles, Jair Bolsonaro deu uma esticada a Orlando, na Flórida, para inaugurar o vice-consulado do Brasil na região. Pelo ar, a distância é e 3 mil 500 quilômetro, com o avião voando (e gatando combustível) por cerca de 4 horas 30 minutos. Hoje, passados quatro meses – justamente agora, no final de novembro – o Itamaraty liberou quase um milhão de reais para fazer frente às necessidades da representação diplomática para este finalzinho de novembro e dezembro inteiro.
Três coisas chamam a atenção para esse consulado: 1) a maioria dos funcionários não faz parte do quadro de funcionários permanentes do Ministério da Relações Exteriores; 2) coladinho na representação diplomática, há um templo da Igreja Evangélica Lagoinha, que tem sede em Belo Horizonte, e cujo pastor-mor, André Valadão, é ferrenho defensor do projeto bolsonarista; 3) por lá também mora Allan dos Santos, blogueiro bolsominion, procurado pela Polícia Federal.
Os funcionários do consulado, sem vínculos diretos com o Itamaraty, foram escolhidos a dedo para se pendurarem no cabide de empregos. Procurado, o Ministério das Relações Exteriores não abriu a lista de empregados. Acredita-se que um dos beneficiários desse trem da alegria seja Allan dos Santos, o blogueiro do mal que lidera, lá da Terra do Tio Sam, a milícia digital golpista que ataca o presidente-eleito Luiz Inácio Lula a Silva e todos os que fazem oposição ao Palácio o Planalto, hoje ocupado, em fase terminal, por Bolsonaro.
O pastor dono da vizinha igreja do consulado, é unha e carne com o ainda presidente da República. Valadão ataca Lula e os partidos de esquerda. Os dois são mais ligados que siameses. Para se ter uma ideia, Bolsonaro fez uso do Boeing presidencial para um bate-e-volta a Belo Horizonte, simplesmente para participar de um culto em homenagem ao aniversário de 50 anos do pastor.
Quando inaugurou o consulado, em festa pomposa, Bolsonaro levou a tiracolo o chanceler Carlos França, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. O local, como não poderia deixar de ser, foi abençoado por Valadão.
A torneira do Itamaraty que jorra dinheiro para o consulado em Orlando não fecha nunca. Só a título de ilustração, acaba de liberar 90 mil dólares (algo em torno de meio milhão de reais) só para pagar o aluguel do imóvel nos meses de novembro e dezembro. O contrato de locação foi feito sem licitação. Quer saber mais? Outros 66 mil dólares (pode jogar aí 350 mil reais) acabam de ser desembolsados para pagamento do décimo terceiro-salário para empregados que só têm seis meses de trabalho. Para fechar essa gastança, foi alugado um carro, por um mês, ao custo de 5 mil 600 dólares – no câmbio paralelo, passa para da casa dos 35 mil reais.
Notibras não conseguiu, ainda, localizar a imobiliária que intermediou o aluguel da sede do consulado em Orlando. Mas espera passar o assunto a limpo a curto prazo, com base em um pedido de esclarecimentos ao Itamaraty, com base na Lei de Acesso à Informação. Um outro pedido, baseado no mesmo dispositivo legal, vai cobrar os nomes e matrículas dos funcionários que estão supostamente pendurados no cabide de emprego.
Essa representação diplomática, já considerada por muitos como mais uma maracutaia palaciana, tem provocado uma série de comentários nas redes sociais. No Twitter, particularmente, pode-se ler que “se bobear é a mesma imobiliária que recebe aluguel do vice-consulado e providencia acomodação para outros”. (…) não foi colocado aí aleatoriamente… com certeza tem dinheiro sendo desviado para a família Bozó… (…) É tanta vigarice que chega a dar náuseas.” (…) Um absurdo!!! Por isso não querem largar a mamata!!!!”
Em seu perfil no microblog, o deputado André Janones, dirigindo-se a Fernando Haddad (os dois cotadíssimos para ocuparem gabinetes na Esplanada dos Ministérios quando Lula assumir, no dia 1º de janeiro, escreveu um ‘Vem cá’, e acrescentou: “Já sabemos por onde começar a cortar os gastos.”