Fundador da psicologia analítica, o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung sempre usou uma abordagem psicológica baseada na filosofia. O objetivo era compreender as complexidades e experiências pessoais da mente humana. O meio utilizado era uma análise geral do indivíduo. A partir daí, desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, de arquétipos e do inconsciente coletivo. Parte abissal da mente, este último é uma herança genética e muitas vezes se manifesta na produção de sonhos com imagens impessoais e estranhas. Em síntese, como não dominamos tudo que pensamos, podemos dizer que o inconsciente é algo nosso e sobre o qual não temos conhecimento algum.
Embora distante física e espiritualmente de nós, se vivo fosse, poderia afirmar que Jung teria conhecido e convivido com boa parte dos brasileiros de nossos dias. Suas principais teses nos remetem ao que pensam nossos contemporâneos, especialmente os que, inconscientemente, apoiam cidadãos ou grupelhos acometidos pela ausência quase absoluta de consciência. Entre os princípios junguianos, alguns são inquestionavelmente autoaplicados em grupos com os quais, voluntária ou involuntariamente, convivemos sem qualquer possibilidade de convergência.
Por exemplo, conhecer sua própria escuridão é o melhor método para lidar com as trevas de outras pessoas. Também merece destaque o pensamento sintetizando que, no fim das contas, os erros são fundamentos das verdades. Então, é evidente que um homem, ao não saber o que uma coisa é, já terá avançado ao saber o que ela não é. Difícil discorrer sobre erros com os que não conseguem discernir a respeito de seus próprios desacertos. Por isso, às vezes é melhor esquecer a elegância e escancarar no português. Realmente é perda de tempo tentar romancear o que é baseado no ódio e na perversão.
Boa parte do povo com o qual dividimos o Brasil não sabe ouvir verdades. Aparentemente na maioridade democrática, a sociedade ainda experimenta ares recheados de hipocrisia. Muitos se imaginam individualmente capazes, mas poucos são os que dispõem de opinião própria. O retrato do desgoverno Bolsonaro é simples: a população sem emprego, milhões morrendo de fome, a Amazônia sendo devastada e os fanáticos militantes se ocupando exclusivamente de ataques àqueles que, por razões diversas, divergem de Jair Messias. A ordem é votar no mito, sob pena de ser achincalhado, agredido e, quem sabe, morto. Tudo em nome do Brasil. É o ódio consciente.
No fundo do poço da selvagem governança ideológica, a economia brasileira segue a passos de canguru para estrelar aquele velho novo filme dos presidentes sonhadores, proféticos ou destrambelhados: nada é tão ruim que não possa ficar pior. Pois bem, estamos bem próximos de um buraco bem maior do que uma simples cacimba. Entendo que, para isso, basta que esqueçamos a coletividade consciente, cortemos os laços com a consciência e, com um leve empurrãozinho, ajudemos o tenente a virar presidente reeleito. Pendular e com contradições infantis e grotescas saindo por todos os poros, o governo de Jair Messias é um blefe.
Embora alguns ainda o defendam, a verdade é que já estamos no fim da prorrogação. Como diz um velho e recém-falecido amigo das redações, esse povo dito de Deus está nos levando para o inferno. Atingimos um estágio sem volta. Pegamos, largamos e lutamos até conhecermos o valor de uma vitória. Particularmente aprendi com o relógio que o preço de esperar é mais leve do que a prestação de uma má escolha. Portanto, vamos às urnas sem esquecer que um governo patriota é aquele que cuida do povo, que trata a todos igualmente. Façamos acontecer.